OS DONOS DA VERDADE


Rubens Nóbrega
Vou lhes confessar uma coisa. Sinceramente, sou um consumidor regular de notícias sobre celebridades, as instantâneas e as duradouras.
Mas não pensem as senhoras e os senhores que preciso recorrer a publicações, programas de tevê e rádio ou portais da Internet especializados no gênero.
Minhas fontes de leitura ou pesquisa nessa área são as mesmas às quais recorro diariamente para me informar sobre as pessoas e coisas boas e ruins do mundo, do Brasil e da nossa Paraíba maravilhosa.
Quer ver uma coisa? Onde vocês acham que eu soube dos ‘pneuzinhos’ que Viviane Araújo precisa perder até o Carnaval? Ah, você não sabia? Rapaz, eu nem te conto...
Não, não foi no Site dos Famosos, não foi na Revista Quem ou de qualquer outro espaço informativo dessa linha. Foi nas notícias em destaque da parte mais nobre (a de cima, onde giram as fotos) do politizado e venerado Uol (Universo Online, o portal do Grupo Folha).
Agora me digam: enquanto os pneuzinhos de Viviane giravam na parte superior do portal, no lado direito da capa do Uol, onde ficam expostos os títulos das cinco matérias mais acessadas do dia, que notícia vocês imaginam encontrava-se no topo?
“Fina Estampa: Tereza Cristina conta seu segredo”, eis o título da campeã de acessos anteontem no Uol, num ranking que contemplava também os paraibanos bem humorados ou docilmente alienados graças a nossa imbatível Luiza.
“Luiza, que voltou do Canadá, é Flamengo por obrigação”, dizia a postagem com que o Uol provavelmente fechou a Semana Luiza, um evento que brotou das redes sociais e ganhou o universo midiático para ser festejado até dizer basta por muitos e, ao mesmo tempo, duramente criticada por uns poucos e rançosos donos da verdade.
Entre esses que se acham definidores do que é bobagem ou relevante, o aclamado e sisudo jornalista Carlos Nascimento, apresentador de telejornal do SBT.
Para ele, o Brasil ficou menos inteligente só porque passou os últimos dias entre a ansiedade pela volta de Luiza do Canadá e a curiosidade pelo que aconteceu sob o edredom do Big Brother em cartaz.
Com aquele seu editorial cheio de clichês e dispensáveis obviedades sobre um povo que vez por outra, só pra relaxar, ama se divertir até com a própria miséria, Carlos passou a encabeçar a minha lista dos caga-regras intolerantes e pedantes.
A propósito...
Eu só queria saber quem foi o inteligente que disse a pessoas assim que o mundo deve gravitar em torno delas, que a humanidade só pode trilhar o caminho traçado por elas.
Quem, pelo amor de Deus, botou na cabeça desses senhores e senhoras da razão que a vida só faz sentido porque elas existem e estão aqui para nos guiar e sem elas jamais saberíamos o que é certo e o que é errado.
Fico mesmo pensando o que seria da existência humana sem um Nascimento para nos dizer quais assuntos devemos ler e discutir ou sem um Chico César e outros do mesmo naipe para selecionar o tipo de música que o povo deve ouvir ou a banda que pode assistir.
Dica de leitura
Considerando a possibilidade de que esses zelosos fiscais do comportamento alheio não se abram espontaneamente à possibilidade de os outros terem opiniões e gostos próprios, não ditados por eles, recomendo-lhes a leitura de um artigo intitulado ‘O fascínio das celebridades’.
Disponível no blog terapiabiografica.com.br, o escrito é da autoria do Doutor Marcelo Guerra, médico de Nova Friburgo que há 22 anos trabalha com Medicina Homeopática, Acupuntura e Psicoterapia Biográfica, mas que também tem a psicanálise na sua formação acadêmica.
No artigo ele diz, por exemplo, que “revistas e sites especializados na vida de celebridades estão entre os mais lidos em todos os tempos” e que há algo mais do que curiosidade em nosso interesse pela vida dos outros. Particularmente quando esses outros são celebridades e delas queremos saber como vivem, o que gostam de fazer, o que comem e como são suas casas.
“Cada celebridade representa um ideal”, atesta o Doutor Marcelo, mostrando ainda que nos artistas e esportistas mais famosos admiramos ou invejamos um atributo ou um talento que algum deles possa ter em especial.
“Podemos admirar a alegria transbordante de Ivete Sangallo, a determinação de Ayrton Senna e o desejo de chocar de Lady Gaga”, escreve o médico, para quem pela força da identificação com nossos ideais as celebridades também podem cair em desgraça com grande facilidade.
“Quando alguma notícia desfavorável chega ao público, não é só pelo fato noticiado que as pessoas se sentem decepcionadas, mas pela quebra do símbolo. No fim das contas, aquele ídolo também erra, também tem incoerências, também é humano”, arremata Marcelo Guerra.

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