AS APARÊNCIAS E A CHAMA DO PODER

Amadeu Robson Cordeiro

Desde o ano de 2005 mantenho um pequeno acervo de escritos e crônicas, entre eles, parte de um texto do gaúcho Antonio Jorge. Pela similaridade das idéias, faço um breve contraponto com a certeza de que as aparências e esta chama intocável do Poder vão muito além das nossas insignificantes labaredas da revolta.

Esta chama, mais do que queimar, corrói, e destrutiva vai lambendo o bom senso, a verdade, a honestidade, o respeito e até a vida. Que estranho poder tem essa chama. Mais poderosa do que a do amor, da paixão, da lealdade, da decência, da amizade, e até da realidade. É tão poderosa ao ponto de fazer ser humano renegar aos mais fortes valores que talvez tenha nutrido em toda a sua existência. Provoca promessas, mentiras, urde maledicências, cria fantasmas e espectros nos outros, desde que lhe sirva de vantagem.

Não estranhem companheiros nada vindo de quem é por ela lambido, por ela enfeitiçado, e que nela coloca todas suas esperanças de poder.

O tempo passa e na sua trilha tenho me deparado com circunstâncias que me levam a conflitantes reflexões, podendo constatar que as aparências do ser humano são verdadeiramente traiçoeiras. Algumas pessoas não são o que parecem à primeira vista e tudo se transmuda com um simples piscar de olhos. Assim, não adianta alguns inconseqüentes quererem entrar para a história fazendo loucuras, se achando donos do mundo, como também, não adianta você que está lendo esta coluna e que se acha entronado com algum poder, acreditar que pisando nas pessoas e manipulando a todos, vai conseguir ser feliz e amplamente realizado na vida. Na verdade, vamos todos parar na porta do céu... e aí você acha que vai entrar?

Em nossa sociedade a coisa mais comum é você ser valorizado pelo que você tem e não pelo que você é. Portanto, para alguns não adianta você ser um bom conjugue se não morar na melhor casa. Não adianta ser um bom profissional, se não tiver prestigio político; se não puxar o saco do seu chefe; se não dedurar os antigos companheiros; se não souber ser um exímio hipócrita; se não tiver duas faces e não possuir um ou vários carros do ano. Não adianta ser honesto, se não vestir roupa de marca, não freqüentar os melhores restaurantes, se não conviver com a elite. Sim, nossa sociedade de tão moderna tornou-se ambiente fértil para o florescimento do lado escuso do ser humano! Como disse o colunista Adilson Luiz: “E nem tudo é aparentemente feio, previsível, identificável, óbvio. Às vezes uma bela maçã esconde vermes asquerosos e enervantes, enquanto um maracujá murcho apraz e relaxa”. Cá prá nós, existem maçãs, cítricos e maracujás azedos, depressivos e enervantes prá caramba.

Depois destas reflexões e vendo a conjuntura do Poder no nosso Estado, lembrei-me de um fato verídico, mais bem sintomático: Tomei conhecimento que há alguns anos atrás, quatro jovens amigos e estudantes de uma mesma série e sala de aula, foram compelidos a redigir uma pequena redação versando sobre o corpo humano: “A cabeça é meio redonda e dura, o seu cérebro fica dentro dela e o seu cabelo em cima dela. O seu rosto fica na frente da sua cabeça onde você come e faz careta... Seu estômago é aquilo que muitas vezes dói e ronca quando você não come... Os seus braços você tem que ter para jogar a bola e também para alcançar a manteiga, na hora do café. Seus dedos saem de suas mãos para você estalar, tirar catota e somar quando estuda matemática. Perna é aquilo que se não tiver duas, não pode correr rápido. Seus pés são aquelas coisas que você corre em cima e seus dedos do pé são aqueles que estão sempre dando topadas e fedendo a chulé. E isso é tudo que há em você, exceto pelo que há por dentro, mas isso eu nunca vi”. Um detalhe: Os quatro colaram entre si e hoje são nomes de peso e poderosos nos três poderes, inclusive no MP. É a visão que se tem de cima para baixo. Em tempo e por justiça: Toda regra tem exceção.