O futuro da Venezuela pós-Chávez


Quem são os possíveis sucessores do presidente venezuelano

REDAÇÃO ÉPOCA COM RODRIGO TURRER E FILLIPE MAURO
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morte do presidente venezuelanoHugo Chávez, suscita uma óbvia questão: quem será seu sucessor? Reeleito em outubro, Chávez deveria iniciar seu terceiro mandato consecutivo em 10 de janeiro. O presidente, porém, estava longe dali. Encontrava-se em Havana, Cuba, onde passaria pela quarta cirurgia para tratar um câncer na região pélvica. Chávez deixou no poder seu vice, Nicolás Maduro, o que não respondia às dúvidas sobre uma possível ausência do líder em sua própria posse. Com a saída definitiva de Chávez da cena política, a Constituição prevê a realização de novas eleições em até 30 dias. Segundo a pesquisa do instituto Interlaces, feita entre 16 e 23 de fevereiro, Maduro aparecia com 50% das intenções de voto em uma eventual disputa com o opositor Henrique Capriles, que teria 36% das preferências. Os dois seriam os candidatos naturais: Maduro, por ter sido ungido por Chávez como seu predileto; e Capriles, por ter enfrentado Chávez nas últimas eleições. No entanto, há conflitos de poder dos dois lados. Saiba quais são os principais atores dessa disputa.
Emocionado, o vice-presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou em rede nacional, nesta terça-feira (5), a morte de Hugo Chávez (Foto: Reprodução VTV/EFE)
1. Nicolás Maduro
Atual vice-presidente do país e alçado a presidente interino com a morte de Chávez, é o favorito entre os chavistas para uma futura sucessão. Também é o predileto de Cuba, por ser próximo do castrismo. Tornou-se a figura central da política da Venezuela desde que Chávez o colocou como sucessor. Maduro e Chávez conheceram-se em 1994, quando o futuro presidente estava preso por liderar uma tentativa de golpe de Estado contra Carlos Andrés Pérez. Ex-motorista de ônibus e líder sindical, Maduro tornou-se um dos principais militantes pela libertação de Chávez ao lado da advogada Cilia Flores, então defensora de Chávez, hoje procuradora-geral e mulher de Maduro. Quando assumiu, Maduro chorou e prometeu “lealdade para além da vida” a Hugo Chávez. Nas últimas semanas, fez tudo para demonstrar sua lealdade: não se comportou como presidente e falou de Chávez como comandante da nação. “Aqui em Caracas, 10 de janeiro, dizemos a Chávez: comandante, recupere-se que este povo jurou e vai cumprir lealdade absoluta”, disse o vice no dia da não posse. O grupo de Maduro tenta evitar o fortalecimento do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
O presidente do Parlamento venezuelano, Diosdado Cabello, é reeleito e vai ocupar o cargo até 2015 (Foto: Miguel Gutiérrez/EFE)
2. Diosdado Cabello 
É a artilharia do chavismo. Toda vez que a oposição protestava ou se rebelava contra Chávez, Cabello contra-atacava. Ele foi o primeiro a defender a mudança na data da posse por tempo indeterminado. “Hugo Chávez foi eleito para ser presidente e seguirá sendo o presidente depois de 10 de janeiro”, afirmou. Cabello era subtenente do Exército quando participou da tentativa de golpe comandada por Chávez em 1992. Foi um dos líderes do Movimento V República, que levou Chávez à vitória nas eleições de 1998. Em abril de 2002, quando um golpe comandado por parte do Exército e empresários derrubou o presidente, Cabello comandou os esforços que levaram milhares de pessoas às ruas para recolocar Chávez no poder. Governou o Estado de Miranda, entre 2004 e 2008, quando perdeu para o principal candidato da oposição, Henrique Capriles. É presidente da Assembleia Nacional desde 2011. Cabello é a segunda força dentro do chavismo, depois de Maduro, e próximo de homens fortes do governo, como o ministro da Defesa, Diego Molero Bellavia. Suas ligações com o Exército permitiram que seus aliados, ex-militares, se elegessem governadores em dez dos 23 Estados do país. Cabello também controla o Parlamento, com o apoio de 98 dos 165 deputados.
3. Adán Chávez Frias
Se as divisões e tensões internas do chavismo crescerem demais, talvez seja preciso recorrer a outro Chávez. Tio Adán, como é chamado por parentes, é o mais velho da família do presidente. Irmão e mentor intelectual de Hugo, Adán Chávez, de 59 anos, é formado em física e professor universitário. Participa de movimentos de esquerda desde os 16 anos, mas só se lançou na política pelas vias eleitorais depois que Hugo Chávez saiu da prisão, em 1994. Ele o ajudou a fundar o Movimento V República e depois o PSUV. De 1999 a 2007, foi representante diplomático em Havana e em 2008 elegeu-se governador do Estado de Barinas, berço da família Chávez. Com o agravamento da doença do irmão, Adán tornou-se uma espécie de porta-voz da família e chegou a aparecer na televisão anunciando avanços na recuperação do presidente. A oposição teme que a Venezuela siga o caminho cubano: em 2006, quando o estado de saúde de Fidel Castro piorou, ele passou o poder ao irmão, Raúl. “A Constituição não permite que a Presidência seja ocupada por alguém com parentesco com o mandatário que está deixando o poder”, diz o professor Juan Manuel Raffalli.
O líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles (Foto: Fernando Llano/AP)
4. Henrique Capriles
Apesar de derrotado na eleição presidencial de 2012, o advogado Henrique Capriles Radonski não abandonou a liderança de seu partido, o Primero Justicia. Antes de o vice, Nicolás Maduro, confirmar a ausência do presidente reeleito na cerimônia de juramento, Capriles já cobrava publicamente um posicionamento do TSJ. Quando todos os sete magistrados concordaram com o adiamento da posse, Capriles protestou. “As instâncias (do Judiciário) não devem responder aos interesses de um partido”, disse. Aos 40 anos, Capriles foi prefeito por oito anos de Baruta, cidade das redondezas de Caracas, célebre por abrigar bairros de alto poder aquisitivo. Em 2008, surpreendeu ao derrotar em Miranda o chavista Diosdado Cabello. Foi reconduzido ao cargo em fevereiro de 2012 e se licenciou para concorrer à Presidência. Carismático, Capriles foi o primeiro oposicionista a fazer frente a Chávez: teve 6,1 milhões de votos nas eleições, 1,5 milhão a menos que o presidente. “Desde 2008, Capriles é a pedra no sapato do chavismo e conseguiu fazer frente a toda a máquina estatal nas eleições presidenciais”, afirma José Díaz Flores, professor de ciências sociais da Universidade de Caracas. No entanto, seu nome não é uma unanimidade dentro da Mesa de Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos da oposição, para as próximas eleições. Colegas se queixam de um certo personalismo de Capriles na última campanha.
5. Ramón Guillermo Aveledo
Aveledo é o líder da Mesa de la Unidad Democrática (MUD), aliança de partidos da oposição. Ex-deputado, advogado e professor de ciência política, idealizou a mobilização de organizações internacionais diante do pedido de adiamento da posse de Chávez. Aveledo redigiu uma carta ao secretário da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, acusando o governo do PSUV de desrespeitar a Constituição. Sua pendenga com o chavismo é antiga. Em 2008, ano em que o PSUV conquistou 77% dos governos estaduais, ele publicou o livro El dictador: anatomía de la tirania (O ditador: anatomia da tirania, em tradução livre). No livro, Aveledo recorre à figura de ditadores como Hitler, Stálin e Fidel Castro para descrever o cenário político contemporâneo da Venezuela. 

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