CANTOS E DESENCANTOS GIRASSOLAICOS
Rubens Nóbrega
Dizem que assim que desembarcou no Hotel Xenius, nas trevas da última quarta-feira (4), Luciano Agra chegou chegando. E cantando, pra todo mundo ouvir:
- Eu voltei/agora pra ficar/porque aqui, aqui é o meu lugar...
***
Agra achava que o seu cantar encantaria a todos e todas, inclusive Sandra Marrocos, mas a vereadora foi uma das primeiras a encarar o prefeito e, tão ‘afinada’ quanto Dona Ivonne Lara, mandou ver:
- Acreditar, eu não/Recomeçar, jamais.../A vida foi em frente/E você simplesmente não viu que ficou pra trás.
***
Percebendo que o mar do Cabo Branco não estava pro seu peixe, o prefeito recorreu à própria Estelizabel, a quem pediu alto e bom som, sem a menor cerimônia:
- Taí, eu fiz tudo p'rá você gostar de mim/Ah! meu bem, não faz assim comigo não!/Você tem, você tem que me dar seu coração!
***
Agra só não contava com a reação da sua oponente, que pra mostrar o quanto agora é popular encarou a fera com um hit da dupla João Pedro e Vinicius, que diz mais ou menos assim:
- Pega descendo, que a sua vez passou/Pega descendo, que subindo é contramão...
***
Quem ouviu o ‘diálogo’ teve até pena do prefeito, que desistiu de convencer a pré-candidata e foi pra mesa dos trabalhos cantando baixinho, pra ele mesmo:
- Afinal, o que ela pensa conseguir me desprezando?...
***
Uma vez sentado, Luciano Agra passou a ruminar as reações de quem tentou abordar e concluiu que uma saída honrosa seria bater pino e pedir perdão ao líder maior. Afinal, pino foi feito pra se bater e perdão, pra gente pedir. Certo de que seria o melhor a fazer, o prefeito aproximou-se humildemente de Ricardo Coutinho e ternamente chamou-lhe a atenção cantando música do comunista Netinho de Paula, que diz em uma de suas estrofes mais conhecidas:
- Perdoa, amor/foi mal/eu sei que vacilei/Errei, mas quero consertar/Se você perdoar.
***
Mas o Mago, contaram-me pessoas que assistiram à cena, manteve-se impassível, impenetrável, indecifrável, aparentemente inflexível. Só deu sinais de amolecer um pouco depois que lágrimas escorreram pelo rosto do suplicante velho amigo à sua frente. Mesmo assim, valeu-se de Lulu Santos para tentar explicar o que pensava daquilo tudo:
- Ainda vai levar um tempo/Pra fechar/O que feriu por dentro/Natural que seja assim/Tanto pra você/Quanto pra mim...
***
Inconformado, já aparentando certo desespero, Luciano Agra apelou relembrando um velho sucesso do inesquecível Paulo Sérgio:
- Vivo perguntando a mim mesmo/se você tem dentro do peito/um coração a pulsar/Sei que eu também tenho defeitos/mas eu sei, não é direito/você assim me maltratar.
***
Irritado diante do que acabara de ouvir, Ricardo perdeu a paciência e voltou aos versos de ‘Assim caminha a humanidade’, de Lulu, para se livrar de Agra de uma vez:
- Não vou dizer que foi ruim/Também não foi tão bom assim/Não imagine que te quero mal/Apenas não te quero mais...
***
Supostamente resignado, o prefeito deixou o salão de eventos do hotel e dirigiu-se até a garagem para pegar o carro. No caminho, encontrou Ronaldo Barbosa, presidente municipal do PSB, que tentou ‘tomar satisfações’ por ter sido demitido da Secretaria de Articulação Política. Antes que o exonerado tentasse esticar a conversa, Agra encerrou o papo com um legítimo Antônio Carlos e Jocafi:
- Você abusoutirou partido de mimabusou...
***
Deixando o hotel, em vez de ir pra casa ou para um bar afogar as mágoas, Luciano Agra decidiu recolher-se ao seu gabinete no Paço Municipal para pensar na vida. Lá, antes de entrar parou na calçada, contemplou a majestade do edifício e não resistiu:
- Por que é que tem que ser assim?/Se o meu desejo não tem fim/Eu te quero a todo instante/Nem mil alto-falantes/Vão poder falar por mim...
***
Enquanto Luciano Agra choramingava na antiga sede dos Correios, na Epitácio um barulhento grupo de girassóis pegava um coletivo junto e misturado com Estelizabel Bezerra, tendo como destino uma seresta no Geisel. Na parada do Centro Administrativo Municipal, contudo, de repente ela levantou da cadeira, puxou a campainha do ônibus e desceu. Acompanhada pela galera, ordenou aos vigilantes da guarita que lhe abrissem a cancela e entrou. Já no pátio, diante da fachada do prédio, a moça mostrou todo o seu talento dançando e cantando tal e qual Michel Teló:
- Delícia, delícia/Ai se eu te pego/Ai, ai, ai...
- Eu voltei/agora pra ficar/porque aqui, aqui é o meu lugar...
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Agra achava que o seu cantar encantaria a todos e todas, inclusive Sandra Marrocos, mas a vereadora foi uma das primeiras a encarar o prefeito e, tão ‘afinada’ quanto Dona Ivonne Lara, mandou ver:
- Acreditar, eu não/Recomeçar, jamais.../A vida foi em frente/E você simplesmente não viu que ficou pra trás.
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Percebendo que o mar do Cabo Branco não estava pro seu peixe, o prefeito recorreu à própria Estelizabel, a quem pediu alto e bom som, sem a menor cerimônia:
- Taí, eu fiz tudo p'rá você gostar de mim/Ah! meu bem, não faz assim comigo não!/Você tem, você tem que me dar seu coração!
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Agra só não contava com a reação da sua oponente, que pra mostrar o quanto agora é popular encarou a fera com um hit da dupla João Pedro e Vinicius, que diz mais ou menos assim:
- Pega descendo, que a sua vez passou/Pega descendo, que subindo é contramão...
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Quem ouviu o ‘diálogo’ teve até pena do prefeito, que desistiu de convencer a pré-candidata e foi pra mesa dos trabalhos cantando baixinho, pra ele mesmo:
- Afinal, o que ela pensa conseguir me desprezando?...
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Uma vez sentado, Luciano Agra passou a ruminar as reações de quem tentou abordar e concluiu que uma saída honrosa seria bater pino e pedir perdão ao líder maior. Afinal, pino foi feito pra se bater e perdão, pra gente pedir. Certo de que seria o melhor a fazer, o prefeito aproximou-se humildemente de Ricardo Coutinho e ternamente chamou-lhe a atenção cantando música do comunista Netinho de Paula, que diz em uma de suas estrofes mais conhecidas:
- Perdoa, amor/foi mal/eu sei que vacilei/Errei, mas quero consertar/Se você perdoar.
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Mas o Mago, contaram-me pessoas que assistiram à cena, manteve-se impassível, impenetrável, indecifrável, aparentemente inflexível. Só deu sinais de amolecer um pouco depois que lágrimas escorreram pelo rosto do suplicante velho amigo à sua frente. Mesmo assim, valeu-se de Lulu Santos para tentar explicar o que pensava daquilo tudo:
- Ainda vai levar um tempo/Pra fechar/O que feriu por dentro/Natural que seja assim/Tanto pra você/Quanto pra mim...
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Inconformado, já aparentando certo desespero, Luciano Agra apelou relembrando um velho sucesso do inesquecível Paulo Sérgio:
- Vivo perguntando a mim mesmo/se você tem dentro do peito/um coração a pulsar/Sei que eu também tenho defeitos/mas eu sei, não é direito/você assim me maltratar.
***
Irritado diante do que acabara de ouvir, Ricardo perdeu a paciência e voltou aos versos de ‘Assim caminha a humanidade’, de Lulu, para se livrar de Agra de uma vez:
- Não vou dizer que foi ruim/Também não foi tão bom assim/Não imagine que te quero mal/Apenas não te quero mais...
***
Supostamente resignado, o prefeito deixou o salão de eventos do hotel e dirigiu-se até a garagem para pegar o carro. No caminho, encontrou Ronaldo Barbosa, presidente municipal do PSB, que tentou ‘tomar satisfações’ por ter sido demitido da Secretaria de Articulação Política. Antes que o exonerado tentasse esticar a conversa, Agra encerrou o papo com um legítimo Antônio Carlos e Jocafi:
- Você abusoutirou partido de mimabusou...
***
Deixando o hotel, em vez de ir pra casa ou para um bar afogar as mágoas, Luciano Agra decidiu recolher-se ao seu gabinete no Paço Municipal para pensar na vida. Lá, antes de entrar parou na calçada, contemplou a majestade do edifício e não resistiu:
- Por que é que tem que ser assim?/Se o meu desejo não tem fim/Eu te quero a todo instante/Nem mil alto-falantes/Vão poder falar por mim...
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Enquanto Luciano Agra choramingava na antiga sede dos Correios, na Epitácio um barulhento grupo de girassóis pegava um coletivo junto e misturado com Estelizabel Bezerra, tendo como destino uma seresta no Geisel. Na parada do Centro Administrativo Municipal, contudo, de repente ela levantou da cadeira, puxou a campainha do ônibus e desceu. Acompanhada pela galera, ordenou aos vigilantes da guarita que lhe abrissem a cancela e entrou. Já no pátio, diante da fachada do prédio, a moça mostrou todo o seu talento dançando e cantando tal e qual Michel Teló:
- Delícia, delícia/Ai se eu te pego/Ai, ai, ai...
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