SOBRE O ENCERRAMENTO DA PARAÍBA 101 FM

Cacá Barbosa
Acabou. Após 1 ano, 10 meses e quinze dias de sua estreia, a Rádio Paraíba 101 FM sai do ar. Foram exatos 689 dias de muita informação, prestação de serviço, polêmicas, brigas pelo povo e entretenimento de qualidade.
Houve quem dissesse que o jornalismo da emissora era de oposição. Mas não era. Na extinta e saudosa Paraíba 101 FM se fazia jornalismo de qualidade, ouvindo os dois lados, oferecendo espaço para que todas as correntes e tendências se manifestassem. Abrindo os microfones ao debate, ao contraditório. É assim que se pratica o bom jornalismo. Se nossa equipe não mostrava o outro lado, era porque o “outro lado” se recusava a comentar os temas levantados em nossos programas. Nunca podem dizer que a Paraíba 101 FM negou direito de resposta a ninguém, ao contrário, ofereceu. A prova de tamanha qualidade no jornalismo nos rendeu prêmios estaduais e nacionais.
Mas a Paraíba 101 FM não era feita apenas de jornalismo. A emissora tinha uma programação musical, que embora popular, não era popularesca. Tinha comunicadores que cativavam os ouvintes. Pela manhã, a revelação Johnny Rocha ocupava a faixa das 8 ao meio-dia com muito carisma e simpatia. Era mesmo um “amigo no rádio” como ele costumava se apresentar no ar. As tardes eram as mais felizes. Este humilde escriba esbanjava alegria – espontânea, diga-se de passagem – das 15 às 18h e a resposta do público era a melhor possível. Lembro-me de ouvintes que diziam claramente que eu conseguia espantar a tristeza do cotidiano deles, mesmo que fosse por apenas três horinhas. À noite, a irreverência de Alisson Cardoso e Guto Brandão no “Eh Nóis” e o romantismo de Ronny Britto fechavam a parte de entretenimento da Paraíba 101 FM extinta ontem.
A Paraíba 101 FM também era campeã nos eventos que promoveu: Arraia Paraíba 101 FM, Gospel Fest, Acelerando o Verão, Paraíba na Comunidade, Rádio Bairro e o vitorioso projeto Eleições 2012 levaram o nome, a marca e a credibilidade da emissora aos quatro cantos da Paraíba.
Toda essa química dava certo porque o grande alquimista era um baixinho, cajazeirense arretado, de sangue no olho e polêmico chamado Gutemberg Cardoso. Pra quem não sabe, foi “Guto” quem em novembro de 2005 – eu recém-chegado do Recife com uma mão na frente e outra atrás – escancarou pra mim as portas do rádio paraibano ainda no Sistema Correio de Comunicação e me deu régua e compasso para que eu traçasse minha carreira radiofônica. Foi Gutemberg que me ensinou absolutamente tudo que eu sei de rádio. Foi ele quem me transformou no profissional que sou hoje. Tenho com ele uma dívida impagável de gratidão. Como espiritualista que sou, acredito que nem em outras vidas conseguirei quitar esse débito.
Os motivos que levaram à extinção da Paraíba 101 FM já se tornaram públicos por meio de nota de esclarecimento emitida pela Rede Paraíba de Comunicação. Embora muitos questionem seu teor – afinal, vivemos em um estado que respira política 24 horas por dia, 365 dias por ano – acredito piamente em cada linha que foi redigida pelo superintendente Guilherme Lima, a quem agradeço a oportunidade de fazer parte desse vitorioso grupo empresarial liderado por um dos mais sérios e competentes empresários da Paraíba: Eduardo Carlos. Empresas visam lucros. Não são instituições de caridade. A Paraíba 101 FM tinha metas específicas: audiência e faturamento. Quanto à audiência, ouso dizer que a meta foi parcialmente cumprida, pois tiramos a emissora da humilhante 14º colocação para uma honrosa 7ª posição no Ibope em menos de dois anos, o que é considerado por especialistas em comunicação como um verdadeiro case de sucesso. Quanto ao faturamento, prefiro deixar que os números digam por si só. Nunca lidei bem com eles. Sempre preferi as palavras. E é elas que eu utilizo neste momento para externar minha tristeza pelo fim de um projeto que desenvolvemos com tanto carinho e dedicação quase que integral.
Hoje, dia 3 de fevereiro de 2013, não sei se serei aproveitado pela nova CBN João Pessoa. O que sei é que independente de qualquer coisa, serei sempre grato à Rede Paraíba de Comunicação, como sou sempre grato ao Sistema Correio de Comunicação, onde aprendi muito nos 5 anos em que ali trabalhei. A vida nos ensina que jamais devemos cuspir no prato em que comemos e que em mercados com poucos espaços como o nosso, devemos sempre respeitar nossos concorrentes.
Como disse há 2 parágrafos, estou triste, mas estou tranquilo. Não é uma tranquilidade arrogante, de quem se acha o bam-bam-bam. É uma tranquilidade que só os que confiam em Deus tem. E é exatamente nele em quem confio. Não apenas por mim, mas pelos outros 33 talentosos profissionais com quem pude partilhar a mais fantástica experiência profissional da minha vida, que foi a Paraíba 101 FM.
Aos colegas e amigos que passam a tocar a CBN João Pessoa, agora “FMzada”, desejo muito sucesso e que a “rádio que toca notícia”, agora liderada pela minha grande amiga Verônica Guerra, chegue a muito mais gente, fazendo o jornalismo que sempre fez: sério, independente, imparcial e ouvindo todos os lados da notícia. O ouvinte agradece. E eu também.

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