ROUBO, IRRESPONSABILIDADE, ETC


Paulo Santos
Não houve espantos, ninguém quis sair às ruas em ´protesto, nenhuma reclamação contra a ação da Polícia, semblante indignado nem pensar. Ao contrário: todos aprovaram a operação e houve até quem quisesse mais prisões. Só dois mandados de prisão contra prefeitos corruptos? E o resto? Calma, pessoal.
A Operação Dublê, como a Polícia Federal a denominou, que saiu à caça de ladrões de dinheiro público no Sertão paraibano, é só uma ação policial. Não tem nada de pedagógica. Não mexe com os nervos de outros políticos que pessoalmente se beneficiam das verbas públicas.
As eleições de outubro próximo para as prefeituras e câmaras municipais, servirão apenas de trampolim para que muitos dos atuais mestres da gatunagem sejam substituídos por vários gatunos. Nos escaninhos da Polícia só vão mudar alguns nomes e CPFs, endereços e “vulgos”. O motivo: roubo de verbas da educação, da saúde, infra-estrutura...
E não se venha acusar o eleitor como culpado pela ascensão desses ladrões. Quem se acostumou com o dia a dia da política está cansado de ouvir depoimentos que começam sempre com a frase “Fulano era tão honesto, mas depois que virou político...”
O eleitor é enganado pelo disfarce de bonzinho ou boazinha que lhe pede o voto. Quem sai de casa para votar é enganado pelo discurso – às vezes nem eloquente – do futuro ladrão no famigerado “guia eleitoral”. O sujeito que pede o voto persegue o eleitor pelo rádio, pela TV, pelo “santinho”, pelo carro de som e pelo abraço.
É necessário, entretanto, fazer distinção entre o ladrão e o despreparado. O ladrão é um desses que adultera as notas fiscais para se locupletar das verbas destinadas às necessidades básicas da população, que usa a verba ´para viajar com a família, adquirir carros, motos ou propriedades.
O despreparado é, geralmente, bem intencionado. Suas “jogadas” de aproveitamento são tímidas. Não deixam de cometer suas irregularidades, mas isso na maioria acontece por erros banais. Só admite que é despreparado quando cai na “malha fina” dos auditores dos tribunais ou no filtro do Ministério Público.
O pior tipo, entretanto, é o irresponsável. Esse é o ladrão despreparado. É o que rouba, sabe que está roubando, tem consciência de que esse roubo será percebido até por uma criança que ainda não sabe matemática. É o delinquente contumaz, que não sacia a vontade de afundar no cofre público e se afoga na sua megalomania.
Fui testemunha de um caso exemplar. Num restaurante de João Pessoa o prefeito resolveu se exibir diante de deputados e jornalistas, pegou a conta do almoço, puxou o talão de cheque, preencheu uma das folhas e sapecou a fatídica assinatura.
Sorrateiramente o dono do restaurante chamou o prefeito a um canto, disse-lhe qualquer coisa ao ouvido e deu para perceber quando devolveu o cheque. O prefeito foi ao balcão, preencheu outro e o entregou ao dono do estabelecimento. Depois, falando baixinho, o proprietário explicou: “Pedi um cheque pessoal do prefeito porque o primeiro era da Prefeitura e disse que não iria receber dinheiro que deveria ser da saúde, da educação ou para pavimentar uma rua”. Pano rápido.
Terá consciência um prefeito do Sertão nordestino que, diante de uma seca inclemente como a que se avizinha, sapeca sua assinatura num talão de cheques para pagar bandas de forró de cachês altíssimos e outros apetrechos em festas juninas? Isso pode não ser corrupção, mas que é irresponsabilidade, isso é.
IMPASSÍVEL
Justiça seja feita: em nenhum momento, nos últimos dias, o presidente da Câmara Municipal de João Pessoa, Durval Ferreira, estimulou seus colegas a concretizarem o impeachment do prefeito Luciano Agra. Palavra de quem acompanhou de perto todas as discussões. Até mesmo quando o primeiro vice-presidente da Casa, Zezinho do Botafogo, foi lembrado para substituir Agra se Durval declinasse para ser candidato à reeleição.
POMBO-CORREIO
A propósito da crise que envolveu a Câmara e a Prefeitura de João Pessoa: alguns vereadores desconfiam que um colega procurou tirar proveito da situação com o conhecido “leva e traz”.
BATINGA
Carlos Batinga está com um, digamos, “doce dilema”. Ele próprio admite que está na iminência de ser convocado pela unanimidade de oposição do município de Monteiro para ser candidato a Prefeito. Do outro lado, tem cinco deputados estaduais disputando Prefeituras (Chica Motta em Patos, Arnaldo Monteiro em Esperança, André Gadelha em Sousa, Trócolli Júnior em Cabedelo e Guilherme Almeida em Campina Grande) e, na atual condição de primeiro suplente, assume na Assembleia no lugar de qualquer um que vencer.
ZONA PRETA
A população da Capital se revoltou com o exorbitante aumento na tarifa da Zona Azul há pouco dias (de R$ 1,30 para R$ 1,50). Só a população porque os nobres vereadores não deram a mínima para as reclamações. A omissão é imperdoável.
PROTESTO
O Vaticano vai protestar contra um pré-candidato a prefeito de João Pessoa tal o volume de promessas que o homem tem feito nos seus contatos com o eleitorado. É um aperto de mão e uma promessa. Nem com 16 anos consecutivos de mandato poderia ter tantas “realizações”.
PERGUNTAR NÃO OFENDE
Por que Exército está silencioso sobre a contratação de carros-pipa para mitigar a sede das áreas afetadas pela sec? Cartas para o Grupamento de Engenharia.

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