O Dia da Infâmia

Rubens Nóbrega
Fez aniversário ontem um ato dos mais truculentos e covardes que alguém investido de poder é capaz de cometer contra o patrimônio de pessoas que podem fazer bem pelo bem que possuem.
Refiro-me à invasão e destruição da pista do Aeroclube de João Pessoa ordenada pelo prefeito Luciano Agra em 22 de fevereiro de 2011, que entrou para a história das vítimas como o Dia da Infâmia.
O batismo dado àquela data parece-me obviamente inspirado no ataque aéreo japonês à baía de Pearl Harbor (Havaí), em 7 de dezembro de 1941, que destruiu a frota norte-americana no Pacífico.
O sucesso do bombardeio de Pearl Harbor foi medido pelo tamanho da covardia com que foi perpetrado, porque sequer era revide a alguma agressão anterior nem foi antecedido por uma declaração de guerra.
Por todos os títulos e mérito, aquele 7 de dezembro foi justificadamente denominado o Dia da Infâmia pelo presidente Roosevelt e deu a senha para os Estados Unidos entrarem de cabeça na Segunda Guerra Mundial.
Na infâmia contra o Aeroclube não foram empregados aviões torpedeiros. Foram pás e esteiras de trator as armas do prefeito, que agiu escudado por liminar que lhe dava provisoriamente, e apenas provisoriamente, a posse da área.
Não se tem notícia do uso de picaretas no ataque. Refiro-me ao instrumento, lógico, que não teve serventia naquela triste noite, embora o fato tenha dado margem a interpretações de que alguma picaretagem o motivara.

Prejuízo de milhões
De tão provisória, a posse dada à Prefeitura seria derrubada na mesma noite da infâmia pelo presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, atendendo a um recurso da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil.
Mas o estrago já estava feito. Em menos de uma hora, sob comando remoto do Coronel o batalhão sabotador arrasou um equipamento construído há mais 60 anos, causando prejuízo de milhões de reais até hoje não indenizados.
Tudo isso em nome de um badalado e ao mesmo tempo pouco esclarecido projeto de construção de um parque nos 30 hectares que compõem o Aeroclube, uma área que a preço de mercado valeria mais de R$ 200 milhões.
Mas, para forçar a saída do Aeroclube do Bessa, a Prefeitura desapropriou na marra o terreno por um valor (R$ 1,84 o metro quadrado) tão irrisório que deixava o Cuiá valendo igual a uma quadra de frente pro mar de Copabacana.
Contra essa desapropriação o Aeroclube foi à Justiça (Federal), por onde a questão ainda deve estar correndo até hoje.
O que foi destruído
A atrabiliária ação devastadora do aeródromo deve ter razões – imobiliárias ou não – que a própria razão desconhece, mas desconfia. Até por que a tropa invasora destruiu muito mais do que uma pista de pouso e decolagem. Vejam.
O Aeroclube da Paraíba presta serviço de utilidade pública local, estadual e federal, devidamente autorizado por lei, sob supervisão e fiscalização da Anac. Começa pelo fato de que é a principal alternativa de pouso do Aeroporto Castro Pinto.
Assim, a pista do Aeroclube serve, entre outras coisas, para evitar acidentes aéreos e dar estabilidade e segurança às operações no espaço aéreo paraibano.
Além disso, trata-se do único posto de abastecimento de gasolina para avião do Estado. Sua interrupção afeta inapelavelmente as atividades da aviação de pequeno e médio porte.
Como se fosse pouco, “consta de todas as cartas aeronáuticas, sistemas de vôo das aeronaves e de todos os GPS do mundo”, como já explicou exaustivamente o Aeroclube em suas notas sobre sua razão de existir.
Por fim, o mais relevante, a meu ver: a função sócio-pedagógica do Aeroclube, que funciona também como escola de aviação civil, formando, inclusive, pilotos para reserva da Força Aérea Brasileira e da própria aviação comercial.
Santiago e o Aeroclube
Reza a lenda que o empresário Roberto Santiago, dono do Manaíra Shopping e, segundo um amigo meu, “do coração republicano de Ricardo Coutinho”, estaria por trás da desapropriação, invasão e destruição do Aeroclube.
Ele teria instruído o prefeito Luciano Agra a fazer aquilo para evitar que o terreno fosse vendido a um grupo interessado em investir em um grande shopping que rivalizaria e prejudicaria o grande investimento de Santiago.
Sobre o assunto, com suas ilações conexas, reforçadas por especulações subjacentes e inferências malevolentes, conversei ontem com o empresário.
O conteúdo da minha conversa com Roberto Santiago só vou poder revelar na coluna de amanhã, que hoje a pista acabou. Quer dizer, o espaço.

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