‘Gatinha da Cracolândia’ pede para ver filha no Dia das Mães, mas não vai poder devido falta de vacina na criança

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Presa e condenada por tráfico de drogas, a influenciadora digital e estudante Lorraine Cutier Bauer Romeiro, conhecida pela polícia como “Gatinha da Cracolândia”, escreveu uma carta, com exclusividade ao g1, pedindo ajuda das autoridades para ver sua filha neste domingo (8), quando é comemorado o Dia das Mães, e que isso fosse mantido futuramente.

A menina tem 1 ano e 6 meses, mas não pode visitar a mãe na Penitenciária Feminina de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, porque não está vacinada contra a Covid. Por determinação da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) todas as pessoas que entram em suas unidades prisionais precisam mostrar o comprovante de vacinação contra a doença.

Como crianças de 0 a 5 anos não podem receber o imunizante porque estão fora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Lorraine está impedida de ver a filha. As duas foram separadas em 27 de julho de 2021, quando a jovem de 19 anos foi presa durante uma operação policial de combate ao tráfico na Cracolândia.

Essa região do Centro da capital paulista é conhecida por esse nome devido ao comércio ilegal de drogas por traficantes e uso delas por usuários. Lorraine foi acusada de vender entorpecentes no local com o namorado, que também continua preso. Ele não é o pai da filha dela, que é fruto de um relacionamento anterior.

Prestes a completar 20 anos no próximo dia 17 de maio, Lorraine escreveu uma carta, a pedido da reportagem, para contar como está se sentindo em relação à ausência da filha devido à sua prisão e às medidas de segurança impostas pela SAP em razão da pandemia de coronavírus.

“Nos ajudem a recuperar o nosso direito de termos nossos filhos em nossos braços”, escreveu Lorraine neste sábado (7) direto da Penitenciária de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. “É uma dor imensurável para todas nós e nossos familiares, pois além de estarmos provisoriamente em cárcere, não podemos ver nossas crianças”.

‘Véspera do dia das mães….’

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Lorraine escreveu carta para contar que gostaria de ajuda para poder ver a filha novamente — Foto: Reprodução/Divulgação.

A carta foi entregue primeiro à mãe dela, antes de chegar ao g1 (veja a íntegra acima). Nela, Lorraine chama a atenção do poder público para a situação de presas e presos que, assim como ela, têm filhos menores de 5 anos que ainda não podem se vacinar. E que pelo fato de não terem a carteirinha de vacinação são impedidos de verem suas mães e pais.

Depois de datar a primeira das duas folhas de caderno, Lorraine escreveu que nesta “véspera do dia das mães….”, ficou “pensando que palavras usar” para “descrever” um “assunto tão complexo e tão simples ao mesmo tempo”: o “amor” de uma mãe por seu filho.

“É como se do dia para a noite desaparecêssemos de suas vidas, sem sequer nos despedirmos”, afirmou a influenciadora digital em uma das duas folhas de caderno escritas à caneta. “A falta de vacinas em nosso país para crianças de 0 a 5 anos é exorbitante, a grande maioria da população em cárcere tem filhos nessa idade. É preciso que se tome providências em relação à vacinação. Não só por nós, mas sim por elas, para um bem-estar de todos”.
“É inadmissível a falta de vacinação na primeira idade infantil. Até porque é essencial que possamos conviver em tranquilidade com nossos filhos, esse é o único modo para que possamos tê-los aqui conosco em nossas visitas. É imprescindível a reaproximação familiar, algo tão importante e muitas vezes invisível aos olhos da sociedade, só que é nítido para quem vive, sente, sabe e presencia essa realidade cruel”, escreveu Lorraine.

Defesa quer entrar na Justiça para mãe ver filha

Procurada pelo g1, a pasta da Administração Penitenciária enviou nota, por meio de sua assessoria de imprensa, informando que estuda a liberação da entrada de crianças com menos de 5 anos, mesmo que sem ter sido vacinadas.

“A Secretaria da Administração Penitenciária esclarece que, como parte das ações de flexibilização das medidas restritivas, já estuda a liberação da entrada de crianças abaixo de 5 anos e a decisão deve ser comunicada em breve. Graças aos cuidados adotados pela Pasta durante toda a pandemia, a taxa de letalidade pela Covid-19 entre a população prisional foi muito menor entre os custodiados do que entre a população em geral: 0,51% contra 2,2% no país. A totalidade da população prisional do estado de São Paulo foi imunizada contra a Covid-19 e atualmente nenhum preso do estado está com a doença. A proibição de visitas de crianças de 0 a 5 anos foi um dos cuidados adotados”, informa parte do comunicado da SAP enviado à reportagem.

Na unidade onde está presa em Franco da Rocha as presas, por exemplo, funcionárias e as visitas não são obrigadas a usarem máscaras. O uso da proteção contra o vírus é opcional.

“A não obrigatoriedade do uso de máscaras nos presídios cumpre o Decreto Estadual que tratou do tema. O uso de videoconferência só é permitido em hospitais de custódia, durante tratamento psiquiátrico e em unidade de regime disciplinar diferenciado, o que não é o caso já que o Centro de Detenção Provisória Feminino de Franco da Rocha recebe visitas presenciais, inclusive de crianças que foram vacinadas. A operacionalização do sistema teleaudiências criminais para esse fim nessa unidade específica não é permitido”, explica a Secretaria da Administração Penitenciária na nota.

Defesa diz que SAP impediu mãe de ver filha

“O maior presente este ano para todas nós seria: Nossas crianças pudessem voltar a morar dentro de nossos abraços”, segundo Lorraine escreveu na carta. De acordo com ela, o “sofrimento vivenciado” pelas mães aprisionadas e seus filhos é de “total situação de saudade”.

A advogada Patrícia Carvalho, que defende Lorraine, informou que, como a SAP recusou atender os pedidos para que sua cliente pudesse receber a visita da filha na prisão ou até mesmo vê-la por videoconferência, é estudada a possibilidade de entrar na Justiça para conseguir isso.

A defesa pretende fazer um pedido para que seja concedido a sua cliente o direito legal previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de presos poderem receber seus filhos em cadeias, independentemente da idade que as crianças tenham.

“As autoridades devem repensar, e de forma mais urgente, essa questão das crianças menores de 5 anos, que ainda não têm vacinas, porque as crianças estão sendo impedidas da convivência com os pais. E isso fere, além do direito dos pais, o direito das crianças de conviver com os pais durante poucas horas”, disse Patrícia.

“Os pais já estão encarcerados, ou seja, as crianças já são privadas do convívio paterno ou materno. Eu acredito que a Secretaria da Administração Penitenciária teria que rever esse assunto e de forma urgente dar uma prioridade para esse assunto porque as crianças precisam desta convivência com os pais e com as mães”, falou a defesa da jovem.


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