O ‘MENSALÃO’ RICARDISTA


Rubens Nóbrega
Há exatos quatro anos, o Professor Francisco Barreto participou da campanha eleitoral em João Pessoa como candidato a prefeito pelo PTN e se transformou em um dos mais temidos adversários do então prefeito Ricardo Coutinho, candidato à reeleição.
Não que Barreto tivesse votos, estrutura partidária ou dinheiro para competir com o alcaide de então, favoritíssimo naquela peleja. O que ele tinha capaz de botar medo no adversário era uma língua afiada e uma memória fantástica.
Graças ao que viu, ouviu, reteve e depois falou sobre o tempo em que foi secretário de Administração de Ricardo Coutinho, Barreto virou alvo a ser abatido da forma mais fulminante e arrasadora possível pelo establishment girassolaico.
Naquela campanha, dono da ‘palavra mais certa pra doutor não reclamar’, partiu de Barreto, por exemplo, a denúncia da existência de um ‘mensalão’ com que a Prefeitura sob RC sustentaria maioria governista na Câmara Municipal.
Mas aquele seria um mensalão sob a forma de cotas de empregos (máximo de 90) para cada vereador mais comprometido com ‘O Projeto’, o pomposo termo com que ricardistas mais fanáticos referem-se às gestões que têm o líder deles como chefe.
Conforme o denunciante, as gratificações pagas aos afilhados dos vereadores variavam de R$ 1.000 a R$ 2.000 e na média renderiam de R$ 30 mil a R$ 50 mil por mês para cada vereador beneficiado.
Nesse esquema e por semelhante ordem de grandeza, o singular ‘mensalão’ municipal teria rendido mais de 3 mil contratações de prestadores de serviço apenas no primeiro ano da administração ‘socialista’ na PMJP.
Para substanciar essa denúncia, na época Barreto mostrou à imprensa documentos que atestavam o ingresso de 5.092 pessoas na folha municipal entre janeiro e dezembro de 2005.
Aquele total representava mais de cinco vezes o número de contratações admitido por Ricardo em debate com os demais candidatos na tevê, onde evidentemente negou ter herdado ‘apenas’ 1.800 prestadores de serviço do Cícero II.
Pois bem, diante de acusações desse naipe e consistência, evidente que seu autor não ficaria ‘impune’. A rebordosa viria sob a forma de acusação de que Barreto recebera R$ 80 mil do ex-prefeito Cícero Lucena.
Pior: apesar de toda a falta de verossimilhança, a acusação deu régua e compasso para candidatos a vereador do próprio partido de Barreto traçarem contra ele uma ação de investigação judicial eleitoral (aije) no TRE.
Barreto não se intimidou, evidentemente. Repetiu em juízo o que afirmara na campanha, com a mesma segurança de quem desafiou Ricardo Coutinho a processá-lo em razão daquelas denúncias que incluíam o inusitado ‘mensalão’.
Detalhe: não existe, pelo menos na justiça de primeiro grau do Estado da Paraíba, conforme busca na ‘Consulta Processual’ do TJPB que fiz ontem, qualquer ação em que apareça Ricardo Vieira Coutinho como autor e na condição de réu, Francisco de Paula Barreto Filho.
O melhor para Barreto, contudo, viria ao cabo desse quadriênio. Com a sensação de ‘alma lavada’, ele viu a aije contra ele virar um inferno para os seus acusadores e detratores. Digo isso pela mensagem que mandou no último final de semana, da forma como reproduzo a seguir.
Diga aí, Professor
Estimado Rubens, devo lhe informar que os que me caluniaram na eleição de 2008 - Cabo Sósteni et caterva - foram desmoralizados, pois a Aije feita contra mim à Justiça Eleitoral comprovou ser calúnia e difamação após audiências com os acusadores que negaram tudo, se desculparam e até perdão foi pedido...
Não concedi nada... Hoje, por iniciativa do Promotor Eleitoral Dr. Vitor Granadero, aquela ação virou denúncia do Ministério Público e todos estão indo à PF para responder a processo crime.
Um destes dias um f... desses me ligou pedindo que o ajudasse a sair do processo em curso. Quando me enlamearam não hesitaram; agora, vão ter que responder criminalmente.
Quatro anos depois a Justiça entra em cena. O mal que me fizeram em outubro de 2008 é irreparável. Até o prestigioso Correio da Paraíba estampou, em 2 de Outubro de 2008: "Barreto recebe 80 mil de Cícero Lucena".
Tive a minha dignidade restabelecida, mas o amargo da canalhice jamais será esquecido, o coletivo de RC idem.
Abraço respeitoso e fraterno sempre de F. Barreto.
Cabe perguntar
Em razão da campanha eleitoral em curso, necessidades de aval legislativo para empréstimos etc., que garantias a moralidade pública e o contribuinte têm de que não estão sendo reeditados neste momento esquemas tipo ‘mensalão’?
Considerando as peças expostas no tabuleiro, quem pode assegurar que a máquina pública não está sendo utilizada para contratar e formar exércitos de cabos eleitorais para os candidatos apoiados por quem se encontra no poder?
Quem pode negar a possibilidade da compra de votos nos parlamentos e nas ruas? Quem poderá nos salvar, enfim, além do Chapolin Colorado?

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