BRUNO ERNESTO E CAROL QUEIROZ. E NÓS?


Gilvan Freire
Todos estamos vivendo numa Paraíba atemorizante marcada por grave insegurança de vida. Seria natural pensar que por razões humanas qualquer um pode morrer a qualquer hora, porque a vida é finita mesmo. Doentes pensam que podem morrer da doença e pessoas saudáveis têm medo de adoecer e morrer.
Muitos temem os acidentes de trânsito e as estradas, porque o volume de tráfego automotivo cresceu, e há agora motos, uma peça do trânsito com capacidade de desorganizá-lo. É o preço da prosperidade que o país experimenta e dos novos costumes em todas as áreas. Esse crescimento desordenado, fomentado mais pela economia do que pela educação, tem também custos adicionais, porque mudanças súbitas ocorrem sem que as pessoas envolvidas estejam preparadas, ainda que seja para coisas simples como dirigir automóveis, por exemplo.
Nessa questão do trânsito ainda pesam o avanço das tecnologias veiculares – aumento da potência dos motores e outros – e a qualidade das rodovias, construídas com baixo padrão construtivo e espessura de lâmina aquém das especificações técnicas. Essas e outras obras públicas alimentam a máquina da corrupção, que financia as intermediações gerando dinheiro pela má qualidade do produto. Se for uma estrada com 10 centímetros de camada asfáltica, a corrupção deixa ela com 09 centímetros (desviando dez por cento); se fossem livros, a corrupção ganha parte dos exemplares que não são entregues, e assim por diante, em toda a aquisição de bens, até numa farda escolar ou militar pregando menos botões ou diminuindo o pano. É uma indústria monumental.
As Drogas, associadas à violência, infundem muito temor da morte entre as pessoas comuns, porque o fenômeno está se alastrando e tem enorme capacidade de transformar psicologicamente os usuários. De tal sorte que as maiores vítimas sociais são os que não usam, porque estão na mira dos viciados como alvos da criminalidade instituída pela associação dos dependentes e os grupos organizados economicamente em torno do tráfico. Está criada uma comunidade de criminosos dentro de outra não criminosa. E à margem do Estado legal. Mas a criminalidade não é tão poderosa assim – o Estado é que é fraco, incompetente e omisso.
O MEDO DA MORTE É DO ESTADO
A morte de Bruno Ernesto é um dos piores instantes deste Estado frouxo cuja maior bravata é prender os assassinos (quando prende). Mesmo assim, parece ter aliviado a tensão de quem se revoltou e amaciado o coração puro de Carol que, transtornada, encontrou uma palavra de desabafo angelical e de paz- uma paz de quem se sente perdida diante de Deus, sem saber se situar no lugar onde procurou ser feliz. Escreveu ela no mural de Bruno:
“Hoje eu amanheci sem vontade de viver, de ser... Amanheci querendo partir, com vontade de ir-me embora. De não mais voltar. Lembrei de não ter me despedido dele como de costume. Me perguntei se fui digna de tanto amor. Me culpei, me machuquei, me convenci que não mereço ser feliz.
Mas me lembrei do seu sorriso, meu Fofinho. E lembrei de todo amor que nos dedicamos, de toda admiração e respeito mútuos, de toda paixão que nutríamos um pelo outro. Lembrei das inúmeras provas de amor, do teu carinho, do teu zelo por mim... Nós éramos mais que cônjuges. Éramos almas gêmeas, éramos amantes, amigos, parceiros, pais e filhos um do outro. Tu era meu menino e eu sou a tua menina!
Meu amor, que no teu coração não haja revolta, só amor. Porque Jesus tá ao teu lado, meu fofinho. Jesus tá te acolhendo e Nossa Senhora me prometeu que vai fazer ‘cosquinha’ pra você dormir, como eu sempre fiz, com você no meu colo.
Não tenha medo, o que há além da vida para os bons é luz... não há mais dor, não há mais sofrimento, não há mais temor. Agora tu haverás de ser ainda mais feliz. Agora tu és livre, meu amor. Porque agora tu és feito de luz divina e eterna e não há mais carne para te separar de DEUS. TU ESTÁS NO SEIO DE DEUS E NÃO HÁ MELHOR LUGAR.
Meus amigos, conhecidos e desconhecidos, obrigada por tantas mensagens. Eu só levantei depois que vi o quanto vocês o amavam. Continuem a orar e deixem de lado o rancor e a mágoa. Sejam luz na vida das pessoas. Sejam sempre bons, sem deixar que a maldade os invada. Façam de suas vidas, exemplos de fé e bondade. Obrigada por tudo!”
Não! Não! Não! Não deve ser esta a atitude da população. Carolzinha está impotente e marcada por uma sensação de quem está levitando, suspensa e sonhando com a felicidade que já pegou nas mãos e a ela se agarrou e se atirou sem medo e sem temores. E sem culpa.
Que, para você, Carol, seja assim mesmo. O quanto você é digna de Bruno e tudo! Essa é a sua forma mais escolhida para falar a Bruno e eternizar o pacto de amor que fizeram juntos. Você, menina grandiosa, é ao mesmo tempo afago e dor, ternura e sofrimento. Perda e busca.
Nós, os sobreviventes, não. Queremos a revolta e a inconformação. E o protesto, enquanto ainda podermos gritar diante deste Estado desgovernado e insensível com as mesmas palavras com que Bruno se despediu de seus algozes: ‘não me mate!’ Vamos apertar o cerco, para não perdermos o direito à vida. E vamos vencer a inoperância e o descaso do Estado, antes que seja tarde demais. Voltarei ao assunto.

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