Guerra de “herdeiros-réus” do Grupo João Santos chega à mídia do Sul do país

 

Por Ricardo Antunes — Depois de acompanhar um sepucral silêncio da imprensa pernambucana — somos a única mídia que está acompanhando essa história desde a Operação Background, deflagrada em 2021 — finalmente o escândalo do Grupo João Santos chega em um jornal da grande mídia.

Nesse sábado, e assinada pelo repórter Fabio Victor, a Folha de São Paulo divulgou uma matéria sobre a briga nas redes socias que nós falamos em 22 de janeiro.

A matéria, no entanto, está incompleta. Você já soube por aqui que Fernando Santos, a mulher dele, Maria Irene (Lena), e a enteada Ana Patrícia, já moveram uma ação (veja no final) contra o sobrinho Zezinho Santos por calúnia e difamação.

Ana Patrícia Rabelo, Fernando Santos e Lena

A seguir leia o texto da Folha desse sábado(24) assinado pelo repórter Fabio Vitor:

Na fotografia que ilustra o post do Instagram, Zezinho Santos, arquiteto e um dos herdeiros do Grupo João Santos, está sentado sobre as próprias pernas. De óculos escuros, encara sua mão direita, de onde emerge o gesto fálico com o dedo médio esticado e o anelar e o médio contraídos —uma dedada, como se diz em Pernambuco.

O mis-en-scène é ofuscado (ou potencializado) pelo texto, endereçado aos destinatários da dedada. Com uma verve entre o sarcasmo e a baixaria, Zezinho ataca o tio Fernando Santos: “escroque” que “mantinha toda a família refém (…), liberando como renda apenas o que bem entendia (e quando entendia), enquanto enriquecia a si mesmo e aos parentes da cadela da esposa”.

Ataca a esposa do tio: “A maior pistoleira que já vendeu as partes no estado de Pernambuco”. E ataca a enteada do tio: “Lésbica enrustida mau-caráter e torpe”.

Essas são as partes publicáveis —há trechos mais pesados.

Zezinho Santos causou polêmica virou alvo de processois

Zezinho já tinha, pela mesma rede social, chamado o tio Fernando de “criminoso abjeto” e a família da esposa e da enteada dele de “corja de gente vulgar e mal-intencionada”.

O rompante mais recente, de 20 de janeiro passado, o mais virulento de todos, recebeu uma enxurrada de curtidas e comentários, entre os quais o do ator e dramaturgo Miguel Falabella, amigo de Zezinho (“Muito impactado por seu contundente relato!”). Gerou uma resposta judicial dos ofendidos, como se verá adiante.

E expôs com estardalhaço a guerra familiar travada no Grupo João Santos, conglomerado bilionário pernambucano que por décadas foi um dos principais do Nordeste e o segundo maior produtor de cimento do Brasil —e que hoje enfrenta ruína administrativa, financeira e ética.

Em maio de 2021, o Grupo João Santos foi alvo da Operação Background, da Polícia Federal em parceria com a Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que trouxe à tona malfeitos na gestão, sobretudo com o uso de empresas laranjas para encobrir sonegação fiscal e trabalhista. Em dezembro de 2022, o grupo pediu recuperação judicial.

Grupo João Santos foi alvo da Operação Background, da PF, em 2021

Dois dias depois da furiosa publicação da dedada, Zezinho e vários parentes da família Pereira Santos (entre eles o trio xingado no post) viraram réus na Justiça Federal por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Fernando e José (pai de Zezinho) são apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como líderes da organização criminosa.

O Grupo João Santos atuou ou atua nos ramos de cimento, sucroalcooleiro/agropecuário, de celulose, telecomunicações e táxi aéreo. Segundo o MPF, as principais empresas do conglomerado deixavam de recolher impostos e pagar obrigações trabalhistas e usavam firmas laranjas para pulverizar o dinheiro desviado.

Por meio de uma ciranda financeira, ocorria a transferência de patrimônio para empresas que possuíam um menor passivo tributário e/ou trabalhista”, disse a procuradora da República Silvia Regina Lopes, autora da ação contra o grupo. Dada a complexidade do esquema, o MPF apresentou à Justiça Federal cinco diferentes denúncias relacionadas à Operação Background —três já foram acolhidas.

MPF apresentou à Justiça Federal cinco diferentes denúncias

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