Goiana: Hemobrás retoma obras da sua fábrica

Empresa já lançou edital de licitação dos serviços necessários à conclusão da indústria, que permitirá a produção de medicamento hemoderivados na planta de Goiana

O Polo Farmacoquímico de Pernambuco está mais perto de sair do papel. A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) está retomando suas obras. A estatal, coração desse polo industrial, vai finalizar a fábrica de hemoderivados para dar início à produção nacional de medicamentos derivados do plasma e está trabalhando para acelerar a transferência da tecnologia do Fator VIII Recombinante. A expectativa é que a medida ajude a trazer de volta os investimentos prometidos há mais de doze anos.
Iniciada em 2010, a obra da Hemobrás foi interrompida em 2017. Agora, está sendo retomada aos poucos. Mas a expectativa é que, no segundo semestre deste ano, ganhe força, levando 300 trabalhadores da construção civil de volta para Goiana. Afinal, a Hemobrás já publicou a licitação para permitir a conclusão da fábrica de hemoderivados. E esse edital já deve ser aberto em maio.

“Vamos concluir toda a parte civil da obra. Quem olhar pelo lado de fora vai enxergar uma fábrica pronta. Só vai ficar faltando a parte de instalações e arquitetura interna”, revelou o chefe de gabinete da presidência da Hemobrás, Giovanni Albuquerque, lembrando que, no ano passado, obras menores já haviam sido autorizadas. Essa retomada começou pela subestação de energia e pelo bloco de armazenagem dos medicamentos. E, como esses projetos já estão quase finalizados, agora será retomada a construção da fábrica em si.

Segundo Albuquerque, esta nova licitação compreende cinco dos 17 blocos previstos para a Hemobrás. Afinal, o coração da fábrica será composto por seis blocos, mas um deles chegou a ser concluído e está funcionando. É o bloco 01, o responsável pela recepção e pela triagem do plasma que será transformado em medicamentos. É lá que fica a câmera fria da Hemobrás. O problema é que, como as outras unidades fabris ainda não estão prontas, hoje esse bloco envia o plasma colhido em todo o Brasil para ser transformado em medicamento no exterior. Agora, portanto, o objetivo é concluir os blocos que vão permitir a fabricação nacional dos hemoderivados. Isto é, os blocos de produção, envase, embalagem e armazenagem de remédios, além do laboratório da fábrica. 

O serviço está orçado em aproximadamente R$ 24 milhões, mas o edital tem como critério de julgamento o menor preço. “É uma licitação normal da administração pública. A abertura está prevista para 2 de maio”, pontuou Albuquerque. Espera-se, portanto, que as obras comecem em meados deste ano e durem 14 meses. 

A Hemobrás promete, por sua vez, não esperar tanto para dar início à próxima fase de construção da fábrica, a das instalações de equipamentos e utilidades farmacêuticas. Uma etapa que, segundo Albuquerque, é mais delicada e mais dispendiosa. “É o ajuste fino. Mas vamos desprender esforços para fazer isso em paralelo com as obras”, explicou o executivo, lembrando que, depois disso, a unidade ainda precisa passar por testes para começar a operar. Por isso, é possível que a produção da Hemobrás só comece em 2022 ou 2023.

Segundo Albuquerque, a Hemobrás realizou um inventário de toda a obra para poder licitá-la novamente. “O TCU recomentou a não renovação do contrato com o consórcio Biotec. Em decorrência disso, foi preciso fazer um levantamento detalhado do que tinha sido executado e do que faltava executar para podermos chegar a esse ponto de licitar o remanescente da obra”, explicou Albuquerque. 

Ele ressalta que os recursos que serão usados para concluir a Hemobrás chegaram através da Lei Orçamentária Anual (LOA) do Governo Federal de 2018. São R$ 296 milhões que devem arcar com essa e com as próximas fases de conclusão da obra.
Só o tão falado Fator VIII Recombinante será executado com outros recursos. É que esta é uma outra etapa da Hemobrás, que será executada através de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a iniciativa privada. É um projeto de US$ 250 milhões inteiramente financiado pelo parceiro privado, a Takeda - companhia farmacêutica do Japão que adquiriu a parceira anterior da Hemobrás, a irlandesa Shire. 

E Albuquerque garante que Hemobrás e Takeda já estão trabalhando para destravar este outro projeto, igualmente importante para a estatal, pois representa a construção da fábrica e a transferência de tecnologia que vai trazer para o Brasil a autossuficência em hemoderivados. “O contrato foi assinado e os prazos estão correndo”, garantiu o executivo da Hemobrás, lembrando que a diretoria da Takeda já visitou as instalações da fábrica em Goiana e recentemente realizou uma nova reunião de trabalho com a estatal.
Segundo Albuquerque, a Takeda está definindo os detalhes da licitação que vai viabilizar a construção da fábrica do Fator VIII Recombinante da Hemobrás. E a expectativa é que este edital seja publicado ainda neste ano. Afinal, o acordo com o Governo Federal prevê que esta unidade esteja operando em 2023. “A Takeda está comprometida em trabalhar em conjunto com a Hemobrás para seguir com a execução da PDP conforme instrumentos contratuais firmados em dezembro de 2018”, confirmou a companhia japonesa.

Caso tudo isso realmente se concretize, o empreendimento, que já recebeu outro R$ 1,4 bilhão de investimentos e ocupa um terreno de 25 hectares, será capaz de produzir os medicamentos hemoderivados que são essenciais para o tratamento de doenças graves como hemofilia, cirrose, câncer e aids, mas que hoje são importados pelo Governo Federal a um custo aproximado de R$ 800 milhões/ ano. 

“A Hemobrás é muito importante estrategicamente e vai gerar economia para o governo brasileiro”, frisou Albuquerque, ressaltando ainda que a empresa tem saúde financeira para cumprir esse papel.

Segundo o Ministério da Saúde, a Hemobrás já importou e distribuiu para o mercado brasileiro mais de 2,6 bilhões de unidades do Fator VIII Recombinante e 827.212 frascos de medicamentos hemoderivados. E isso rendeu um lucro líquido de R$ 172 milhões em 2017. O resultado financeiro de 2018 ainda não foi publicado, mas a estatal adiantou à Folha de Pernambuco que o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a R$ 93,8 milhões em 2018.

Expectativa é de atração de mais investimentos
Com a chegada da Hemobrás, o Governo de Pernambuco esperava que outras 11 fábricas farmacêuticas se instalassem em Goiana, gerando 2,5 mil empregos. Só uma delas, porém, funciona hoje, segundo o Estado. As outras engavetaram seus projetos devido à crise financeira que atingiu o País. Agora, a expectativa é saber se esses investimentos seguirão o exemplo da estatal e também serão retomados. 

“Como é o maior empreendimento da região, a Hemobrás pode puxar outros investidores. Mas tudo depende das condições de mercado. Não basta incentivo, é preciso ter demanda, crédito e logística”, avaliou o assessor da presidência da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Maurício Laranjeiras, lembrando que ainda falta uma obra essencial para a região, o Arco Metropolitano. 

“Este é um setor que está crescendo e ainda tem espaço para crescer no Brasil, mas os investimentos industriais só devem acontecer se a economia brasileira realmente destravar”, acrescentou o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, que conhece muito bem o Polo Farmacoquímico. Na época em que o projeto foi anunciado, Mussolini trabalhava na Novartis - empresa que avaliou a construção de uma fábrica em Goiana, mas acabou indo para Jaboatão, abandonou a obra na metade e a vendeu para a Biomm, que, segundo a prefeitura de Jaboatão, está redesenhando o projeto da fábrica. 

Presidente da Agência de Desenvolvimento de Goiana, Ana Oliveira garante que, assim como a Biomm, outras empresas vão reanalisar os investimentos prometidos para o Polo Farmacêutico. “Estamos procurando essas empresas. E uma delas já deu até entrada no processo de documentação no ano passado”, contou Ana, dizendo que a prefeitura de Goiana vai oferecer uma capacitação gratuita para os trabalhadores interessados em atuar no setor para poder atrair farmacêuticas para a cidade. 

Algumas dessas empresas realmente confirmam que o plano de construir uma fábrica na Zona da Mata Norte resiste. A Quantas, por exemplo, pediu prorrogação do contrato assinado com a AD Diper para poder avaliar o projeto quando a economia melhorar. "Estamos esperando para ver o que vai acontecer com o País, mas ainda temos a intenção de tocar esse projeto", reforçou o presidente da Biologicus, Djalma Marques.
“Esse polo poderia contribuir com a economia do Estado neste momento, pois é um setor dinâmico e tecnológico, em que muitas multinacionais estão envolvidas”, analisou Laranjeira, que torce para que a retomada da economia e das obras da Hemobrás contribuam com o desenvolvimento deste setor em Pernambuco.


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