SEGUNDO TURNO ENTRE EXTREMOS? Os democracia, serão obrigados a se unir para vencer o fascismo – Por Ricardo Lodi

SEGUNDO TURNO ENTRE EXTREMOS? – Por Ricardo Lodi
(Ricardo Lodi)
Os democracia, serão obrigados a se aliar ao para vencer o fascismo
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Vejo muita gente dizer que lamenta um segundo turno dentre dois extremos: Haddad e Bolsonaro.
Quanto ao extremismo de Bolsonaro e Mourão, ninguém tem mais dúvida: falam em fechar Congresso, Constituinte sem voto, fazem apologia à tortura, são racistas, misóginos e homofóbicos. São a completa negação da democracia e da modernidade.
Mas a candidatura de Haddad se posiciona em um extremo oposto do pensamento político? Se considerarmos a adesão do candidato à democracia e aos direitos fundamentais, sim. Mas, é forçoso reconhecer que o PT, há muito, não ocupa um extremo do pensamento político, podendo, quando muito, ser considerado um partido social-democrata no estilo europeu. Tentando extrair alguma racionalidade desse sentimento antipetista atávico, conseguimos extrair dois chavões: que o PT foi o campeão da corrupção e que quebrou o Brasil. Os mais radicais, dizem que o PT vai transformar o Brasil numa Venezuela. Porém, na análise comparativa dos governos do PT com que veio antes e depois essas duas ideias não têm sustentação.
Quanto à corrupção, existente desde 1500 e presente em todos os países, se formos nos afastar da fulanização seletiva dirigida a fins eleitorais, poderemos constatar que os governos do PT foram os que mais criaram mecanismos de combate à corrupção, seja do ponto de vista normativo, seja com a criação de condições matérias e de independência à Polícia Federal e ao MPF, o que é reconhecido pelos próprios integrantes da Lava Jato. O mantra de que o PT foi o campeão da corrupção não tem nenhuma base empírica, mas se extrai da criação de um momento institucional em que o combate à corrupção foi viabilizado e do uso do poder de pauta, seja na mídia, seja no sistema de justiça, para liquidar o partido e suas principais lideranças. Essa caça ao PT que tinha a prisão do Lula como maior troféu, foi um dos maiores atos de extremismo político no Brasil nos últimos 35 anos, o que recebeu a condenação de toda a comunidade internacional, inclusive da ONU e do Vaticano. Vale ainda lembrar que quem promoveu a faxina na Petrobras não foi a Lava Jato, foi Dilma, que tirou todos os diretores que só bem depois ficaram famosos nas páginas policiais.
O segundo pilar do antipetismo se baseia na crença de que o partido quebrou o Brasil. Aqui os números se encarregam de destruir a farsa. Vide os números em https://jornalggn.com.br/blog/iv-avatar/fhc-vs-lula-dilma-um-quadro-comparativo. Os governos do PT promoveram um importante crescimento econômico, com redução das desigualdades sociais, tudo na mais perfeita ordem democrática. Aliás, no Brasil, conjugar crescimento, inclusão e democracia, foi uma singularidade desse período histórico.
Muito se diz que tudo foi destruído no segundo Governo de Dilma. Aqui temos uma meia verdade. De fato, erros na condução da política econômica foram cometidos pela ex-presidente Dilma e por ela já foram reconhecidos. A maioria deles se devem à adesão ao que Laura Carvalho, no livro Valsa Brasileira, chama de Agenda FIESP, também denominado de nova matriz econômica, que se afastou da condução macroeconômica dos Governos Lula.
Esses erros tiveram os seus efeitos aprofundados pela austeridade de Joaquim Levy, cuja nomeação foi uma capitulação do governo, que desde a eleição foi barbaramente sabotado, ao mercado financeiro. Porém, com a superação da Agenda Fiesp e do receituário da Escola de Chicago, na gestão do Ministro Nelson Barbosa, havia possibilidades de superação da crise, não fosse o ambiente político absolutamente tomado pela sabotagem de Cunha, Temer e do PSDB, recentemente reconhecida pelo ex-presidente do partido. Não existia a menor chance de recuperação da crise economia naquele ambiente político.
Assim, muito embora o país nunca tenha estado quebrado após os governos do PT, graças às reservas cambiais acumuladas em seus governos, a crise não foi criada pela adoção do receituário econômico lulista, mas pelo governo Dilma ter sucumbido à Agenda FIESP e, no segundo Governo, ao receituário neoliberal da Escola de Chicago. Porém, a crise foi vários vezes multiplicada pela introdução radical da austeridade seletiva na gestão Temer/Meirelles, cujo marco mais emblemático foi o congelamento dos gastos sociais por 20 anos, com a EC n. 95. Sobre o tema, vide do nosso texto: http://www.direitodoestado.com.br/colunistas/Ricardo-Lodi-Ribeiro/pec-241-austeridade-seletiva-ou-rent-seeking.
Na verdade, a introdução da reforma trabalhista, do congelamento dos gastos e da reforma da previdência, como era proposta por Temer, é que constituem, no espectro político atual, uma das maiores demonstrações de extremismo, pela adesão mais entusiasmada de uma versão radical e irresponsável do neoliberalismo, cujos resultados já são agora sentidos na Argentina, em colapso econômico, social e político.
Quanto à chamada venezuelização do Brasil, o argumento beira ao terraplanismo, uma vez que os governos do PT foram os mais conciliadores da história do Brasil, quando superada a ideia de conciliação apenas entre as elites e reconhecemos os trabalhadores como atores do processo político e social. Nunca colocaram em risco a ordem constitucional, nunca propuseram alteração na Constituição para ampliar mandatos ou promover reeleições. Nunca alteravam a composição do parlamento ou do judiciário. Ao contrário, sempre preservaram a independência dessas instituições. Se falava tanto de aparelhamento do partido, mas a composição do judiciário hoje, em grande parte escolhido pelos presidentes petistas, afasta totalmente o argumento.
Esses dados são trazidos para mostrar que o antipetismo não se baseia na corrupção e da gestão da economia, itens em que outros governos tiveram resultados bem piores. O buraco é mais embaixo, e que, com todos os seus erros e acertos, os governos do PT nunca tiveram nada de extremistas.
Muito se diz: “ah, mas o PT não fez sua autocrítica”. Sinceramente não tenho certeza do que esperam que seja reconhecido, pois não há consenso sobre os erros e acertos do período, mas se formos pesquisar, ao longo dos últimos dois anos, as declarações de suas lideranças, inclusive Lula, Dilma e Haddad, para ficar só nos principais, vamos encontrar vários críticas aos governos petistas. Autocríticas formais de partido são muito raras. Nos períodos democráticos brasileiros não me lembro de nenhuma, pois, infelizmente, para quem disputa eleições, reconhecer erros é dar munição ao adversário. Mais comuns são as famosas “autocríticas revolucionárias”, nos partidos comunistas, usadas para um líder já encastelado no poder, para expurgar a velha guarda do período anterior, como aconteceu com Kruschev, na União Soviética, e com Deng Xiaoping, na China.
Deste modo, penso que, nos últimos anos, o extremismo político brasileiro, com impeachment sem crime, prisão sem provas e degola eleitoral, foi uma arma dos hoje autodenominados moderados para escancarar as portas para a versão mais radical do neoliberalismo. Mas acabavam, com isso, abrindo a jaula da besta fascista que a tudo destrói.
E o mais irônico dessa estória é que os chamados moderados, por uma razão de sobrevivência própria, pois políticos, por piores que sejam, precisam de democracia, serão obrigados a se aliar ao PT para vencer o fascismo. Esse fenômeno é cada vez mais normal na Europa e, infelizmente, vamos vivencia-lo no Brasil atual.
E o pior é que tem agora “moderado”, que não aceita a rejeição das massas ao radicalismo neoliberal, propondo voto meritocrático para superar o princípio básico do liberalismo político de “cada cabeça um voto”.
Espero que todos tenham a visão de onde está verdadeiramente o extremismo nessa disputa e se unam para salvar a ordem constitucional democrática.


Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba

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