Alta de 4% nos custos piora índice de eficiência dos bancos

Margens menores em crédito e tesouraria não foram compensadas por mais receitas com cartões, tarifas e serviços de conta-corrente; despesas somaram R$ 36,9 bilhões nos três maiores no primeiro semestre

 Nem o corte de 10 mil funcionários em um ano, nem programas de racionalização de processos ou ganhos maiores com cartões, tarifas e serviços ajudaram os três maiores bancos privados a melhorar a eficiência no primeiro semestre deste ano. Ao contrário: o índice ficou igual ou piorou nos três maiores, porque os custos aumentaram em média 4,2%, para R$ 36,9 bilhões — enquanto as receitas totais ficaram praticamente estáveis, em R$ 65,9 bilhões.
O índice de eficiência é o resultado da divisão das despesas pelas receitas (quanto menor, melhor). Portanto, para melhorá-lo, ou se diminui o custo, ou se aumenta a receita — ou ambos. “Mas a estratégia de cortar custos já dá sinais de esgotamento”, diz Luís Santacreu, analista da Austin Rating.
Mesmo no Bradesco, onde a eficiência ficou praticamente estável (o índice passou de 49,9% para 49,8%), o aumento dos custos foi de 4,9% — mas o banco conseguiu manter o aumento das receitas no mesmo patamar (5,2%). Apesar de contabilizar perda de receitas com operações de tesouraria (aplicações de recursos próprios em títulos de renda fixa), devido a alta dos juros no período, na média a queda das receitas com intermediação financeira (crédito e tesouraria) foi modesta, de apenas 1,8%.
De acordo com o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, as perdas contábeis com tesouraria afetaram o patrimônio mas, em breve, devem voltar a engordar os ganhos do banco. E a operação de seguros, que representa 30% dos resultados do banco, contribuiu para a equação, com aumento de 19,3% de junho a junho. “Diversificação de receitas é fundamental", diz Santacreu. “Além disso, o banco vem crescendo sozinho, não fez nenhuma aquisição importante nos últimos anos, está com uma estrutura mais leve”, afirmou, lembrando que o índice de eficiência do Bradesco costumava ser pior do que o do Itaú mas que, nos últimos trimestres, a situação se inverteu.
Jesús Zabalza, presidente do Santander Brasil, está empenhado em aumentar a diversificação de receitas. No semestre, houve aumento de 21,3% essas receitas. Mas o custo da inadimplência penalizou as receitas com crédito, que recuaram 14,9%. “O banco precisa aumentar a escala para diluir melhor seus custos”, diz Santacreu. Como resultado, a eficiência subiu de 62,5% para 73,4%.
No Itaú, o índice de eficiência subiu de 50,6% para 53,9%. Lá, as despesas cresceram em média 4,1%. Rogério Calderón, diretor de relações com investidores e de controladoria do banco, disse em teleconferência a jornalistas na semana passada que estava satisfeito com a evolução: “O aumento foi menor do que a inflação no período”. No entanto, as despesas com pessoal subiram 8,2%, em parte pelos custos com as demissões recentes — de qualquer forma, foi menos do que os 8,8% que haviam subido no período entre março de 2012 e março de 2013. “A situação do Itaú é temporária. A tendência é de que o banco vá se ajustando ao longo do tempo”, acredita Santacreu.
Outro ponto que chama a atenção no Itaú é o forte aumento das receitas com tarifas: 20,3% de junho a junho, puxado pelo aumento com cartões. No Bradesco a alta foi bem menor, de 3,5% enquanto no Santander houve inclusive queda, de 6%.
As receitas decorrentes dos serviços de conta corrente atingiram R$ 1 bilhão no segundo trimestre no Itaú, “devido ao crescimento na quantidade de pacotes e serviços vendidos, mais ações de cobrança, e da adesão e adequação aos serviços prestados aos clientes Uniclass e ao segmento de pessoas jurídicas”, segundo o banco.
Santacreu explica que os índices de eficiência calculados pela Austin podem não coincidir com os apresentados pelos bancos por diferenças de metodologia: a Austin não inclui despesas tributárias enquanto o do Itaú inclui; e o cálculo do Santander exclui as despesas de amortização de ágio na compra do Banco Real em 2008, e a Austin usa o lucro contábil. Para Santacreu, retirar o custo da aquisição do Real e não retirar as receitas de crédito que o Santander herdou não faria sentido.

IG

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