LUCIANO, NONATO E BRUNO. NOVIÇOS REBELDES


Gilvan Freire
Mesmo sendo ao mesmo tempo o maior amigo e inimigo do homem, o medo é um parceiro inseparável da criatura humana. Só raramente há alguém despossuído do medo, porque os temores surgem de um estado de consciência e razão em que a pessoa reflete sobre a existência ou presença do perigo. O mais comum é que haja entre os indivíduos uma variação de medo – uma escala de mais ou menos temores sentidos ou pressentidos quando entendem ou enxergam o potencial ofensivo contra seus interesses, a sua integridade e sua estabilidade emocional.
Há pessoas, contudo, que não sentem temor de nada, nem da morte. Sua estrutura psíquica não processa a sensação do medo à falta de consciência do perigo. As ciências estão debruçadas sobre esse tipo. Há mais gente nesse grupo do que se imagina, segundo as pesquisas, e o crescimento do grupo segue, no mínimo, o aumento demográfico da população mundial.
Luciano Agra é um medroso compulsivo, com grau elevado de variações, ou seja, vacila entre a vontade de tomar decisões corajosas, destemidas – a vontade de não ter medo – e o próprio medo. Chega a tomar atitudes valentes, mas em seguida recai. É mole, apesar de ter brios. Parece uma grave contradição, porque “brio” significa a ‘sentimento de afirmação da dignidade pessoal’ – isto ele tem de sobra. Mas quer dizer também ‘coragem, valentia’ – e isto é o que ele tem muito desejo de ter, mas não tem.
Nonato Bandeira é um sujeito operoso, enfrentador e articulado. Pensa bem, arma estratégias de guerra e guerrilha e combate como soldado qualificado no campo de batalha. É inteligente e expõe bem, maneja de forma fria as armas do poder, embora possa se ferir com elas. É corajoso e arrojado, mas sua bravura tem um limite mortal: a subordinação – que é um tipo de medo crucial para quem ama a liberdade, tem disposição de luta, mas tem que se render para sobreviver.
Bruno Farias é jovem, poeta, advogado, político e pensador precoce. Não se sabe ainda até onde pode ir a sua coragem. Por enquanto, parece não se deixar dominar pelo medo – que certamente tem, porque é um homem normal – mas talvez não conheça seus limites. O medo e a coragem, diante da consciência e da razão, e dentro da escala de mais ou menos temores, são naturalmente limitados. É a lógica de ter que enfrentar menos ou mais, ceder menos ou mais, para garantir interesses de seu oficio. O avô, desembargador cassado Emilio Farias, era uma fera de valente – moralmente, intelectualmente, ideologicamente. A raça é muito boa.
O TRIO QUE QUER DESCARRILHAR O TREM
Quando Luciano Agra retirou sua candidatura, sabia, extremamente decepcionado, que estava sendo preterido pelo que achava serem suas melhores qualidades para disputar o pleito: a identidade natural, a sinceridade habitual e a ingenuidade assumida, coisas que – diferente da coragem que gostaria de ter e não tem - nasceu com elas. São partes de seu DNA. Mas está agora ferido, magoado e insuflado, querendo dar respostas com a coragem dos outros.
Quando Nonato ajudou a rifar Luciano, tinha certeza que a vez era dele próprio, porque antes tinha sido preterido por Agra como vice de RC. Tem valentia, reagiu nos bastidores e recebeu o apoio de Luciano, a outra vitima da surpresa chamada Estelizabel, que só precisa ter as qualidades que os dois não têm: ser integralmente Ricardo Coutinho, sem vaidades pessoais, sem ambições de ser líder e sem querer ser nada, a não ser o que RC quiser. E a única valentia que lhe é exigida é ser assumida, o que os outros dois sempre foram antes e ameaçam agora não ser mais.
Quando Bruno Farias se rebelou, o fez por causa de Luciano e Nonato. Em relação a Agra, porque é líder dele na câmara e por ele é bem tratado. E não tem relação direta com RC, que não trata político bem. Nonato é seu companheiro de partido – o PPS – e tanto quanto Luciano, vítima de Ricardo Coutinho e Estelizabel, a única dupla que garante um ao outro.
Mas quando todos se juntam em torno de Nonato – menos RC, Estelizabel, Pâmela e o Coletivo Girassol (hoje morto mas ressuscitado através de célula partidária socialista), é porque querem fazer o que ninguém tem coragem de assumir: afrontar RC em sua decisão monocrática e imutável de escolher somente aquela em quem confia. Ricardo sabe que esses dissidentes enrustidos confiança não merecem mais. E fica intuindo: - ‘ora, se todos querem me enfrentar, mas não dizem claramente, é porque não têm coragem’. E deve está concluindo – ‘se eles não são valentes, mas eu sou, de que devo ter medo?’

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