PARAÍBA A REBOQUE DE PERNAMBUCO


Dr. Roberto Pinto
A capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco em 1756 e separada em 1799 em priscas eras do Brasil Colonial. Hoje, a Paraíba volta a protagonizar papel secundário, quase uma anexação ao vizinho Estado de Pernambuco, dois séculos e meio depois.
Não é uma dependência política, mas econômica e tecnológica, que se constitui na forma mais moderna de escravatura. Senão vejamos.
A instalação da montadora Fiat e seu complexo logístico (porto e aeroporto) a 50 km de João Pessoa e a 140 km de Campina Grande, nos permite analisar o que representa este ato para o Estado da Paraíba.
Em Goiana será instalada a Fiat com sua linha de montagem de automóveis, campo de provas e Instituto de Pesquisas, tudo em amplo terreno, o que não conseguira em Suape, onde tinha sido originariamente lançada a pedra fundamental de empreendimento. Esta mudança se deu por razões exclusivamente econômicas e não políticas, como querem fazer acreditar.
Por força desse detalhe, a Fiat aumentou seu investimento de 3 para 4 bilhões de reais, os fornecedores ou sistemistas para 3 bilhões, o complexo logístico (porto e aeroporto) para 3 bilhões e aumento da produção de automóveis de 200 mil para 250 mil unidades/ano. Só aí um investimento de 10 bilhões de reais.
Em Goiana será criado um aeroporto internacional e em Ponta de Pedras, no litoral pernambucano, um novo porto de águas profundas a 10 km da cidade. Através de Ponta de Pedras será escoada grande parte de sua produção industrial e importada matéria prima para a fábrica de Goiana, que terá também como alternativa uma pista de 100 km ligando Itamaracá e Ipojuca, sem passar na congestionada BR-101, indo direto a Suape.
Não temos na Paraíba um aeroporto digno desse nome nem porto de águas profundas. O aeroporto de João Pessoa não se sabe se fica em Bayeux ou em Santa Rita. Tem limitações de pista (2.500m) o que não permi te trajeto de aviões de grande capacidade de carga e passageiros. O mesmo ocorre com o de Campina Grande com 2.000m de pista.
As estações de ambos os aeroportos estão limitadas ao pequeno número de passageiros que por elas transitam. Ao invés de corrigirmos nossas deficiências, falhas ou omissões, passamos a aplaudir e festejar a criação do aeroporto Internacional de Goiana e do porto de águas profundas de Ponta de Pedras.
Este é o último golpe que faltava para nocautear o aeroporto Castro Pinto e o Porto de Cabedelo. A duplicação da rodovia translitorânea que ligará João Pessoa a Recife, já iria diminuir o fluxo de passageiros através do Castro Pinto pelo conforto que oferece o Gilberto Freire com 3.300 m de pista, equipamentos modernos de proteção ao voo, fluxo de 9 milhões de passageiros/ano e múltiplas conexões nacionais e internacionais. Em S. Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal a 180 km de João Pessoa se constrói um aeroporto internacional, já privatizado, que finalizado em trinta meses, será o maior da América Latina.
Concluído o aeroporto internacional de Goiana e a Paraíba rodeada por essas mega-estruturas aeroportuárias, como ficará o Castro Pinto? Às moscas.
Pernambuco já tem Suape que agrega em torno de si um complexo industrial que dobrará o PIB pernambucano até 2020, além do antigo e movimentado Porto de Recife. E depois com o porto de águas profundas de Ponta de Pedras, como ficará Cabedelo?A ver navios.
Aliás o fato de a Paraíba não dispor de um porto de verdade, atrasou o desenvolvimento de Campina Grande, pois no tempo de seu maior desenvolvimento, na época do boom do algodão, toda sua produção como 2ª praça exportadora mundial desse produto, era feita através do Porto de Recife.
Campina Grande teria acelerado seu desenvolvimento, se naquela época dispuséssemos de um porto no Estado para escoar com mais facil idade nossa produção industrial.
Em Suape surge o Estaleiro Naval Atlântico Sul, o maior do Hemisfério Sul, produzindo petroleiros e a refinaria Abreu e Lima da Petrobrás que trará autosuficiência de derivados do petróleo para o Nordeste. A Novartis instalará em Jaboatão dos Guararapes a mais moderna fábrica de vacinas da América do Sul, os acumuladores Moura, em Belo Jardim, fabricando baterias que já equipam metade da frota nacional de veículos, a indústria de confecções, que estimulada pelos baixíssimos impostos estaduais, surge como exponencial fator de desenvolvimento no eixo Toritama – Santa Cruz do Capibaribe – Caruaru sendo hoje responsável por 16% da produção nacional de jeans e tantas e tantas outras iniciativas como fábricas de cimento e aço, duplicação de estradas, novos estaleiros, aumento do metrô, petroquímica, surgem a todo momento com velocidade supersônica em Pernambuco.
Até um projeto de trem de alta velocidade ligando Recife a Caruaru já existe. E nós, que fazemos? Nada. Porque não temos nada mais a fazer senão perpetuar velhas richas e intrigas com acusações mútuas que não terminam nunca e não interessam nem um pouco ao povo. Seremos meros espectadores do sucesso administrativo do nosso vizinho e exportadores de mão de obra que naturalmente privilegiará técnicos, engenheiros e trabalhadores pernambucanos.
Podemos estar satisfeitos com isso?
Para anexar Paraíba a Pernambuco como em 1756 falta pouco. Estamos voltando ao tempo das capitanias hereditárias, agora sem decreto real, na contra-mão da história.

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