Os dias de chavismo em território pernambucano

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Pernambuco é um dos Estados que sente a proximidade com a crise na Venezuela por questões históricas e pela parceria frustrada no projeto da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape. Falecido em 2013, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foi protagonista nessa aproximação, graças ao sentimento de gratidão que tinha pelo general pernambucano Abreu e Lima. Considerado um “herói nacional” na Venezuela, o general lutou ao lado de Simón Bolívar nos processos de independência e libertação de países da América Latina. 
A idolatria que tinha por Abreu e Lima fez Chávez desembarcar no Recife, em setembro de 2000, para visitar o túmulo do general no Cemitério dos Ingleses. Na passagem pelo Estado, o então presidente também participou de almoço com empresários na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), comandada na época por Armando Monteiro Neto. Entusiasmado com a possibilidade de fazer parcerias com o Estado, Chávez convidou uma comitiva local para visitar a Venezuela. As tratativas não demoraram e no mês seguinte uma missão pernambucana integrada por 15 empresários e a jornalista deste JC, Angela Fernanda Belfort, pousou em Caracas.
Acompanhado por três ministros, Chávez recebeu a comitiva pernambucana no Palácio de Miraflores (sede oficial do governo venezuelano). Na ocasião, sugeriu a ideia “improvável” de construir um gasoduto ligando a Venezuela ao Recife. O governo de Pernambuco estava interessado em firmar parceria para construir um terminal de regaseificação em Suape. O então governador Jarbas Vasconcelos chegou a enviar à Presidência da Venezuela o resumo de um projeto. Integrando a missão, o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do álcool em Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, comentou o interesse do Estado de exportar para a Venezuela, mas Chávez disse que açúcar era assunto delicado, porque havia acabado de proibir a importação do produto de países andinos. 
Durante a viagem, os empresários também participaram de reunião com a companhia estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, que demonstrou a intenção de estudar a implantação de uma refinaria de petróleo em Pernambuco e de ter uma rede de distribuição de combustíveis no Nordeste. O interesse de Chávez coincidiu com o momento em que a Petrobras avaliava a construção de uma nova refinaria no País, após duas décadas sem novos investimentos. As negociações começaram e, em 2003, os presidentes Chávez e Lula assinaram um protocolo de intenções para tocar o empreendimento, que teria 60% de participação da Petrobras e 40% da PDVSA.
Em 2005, com capacetes de operários e pás nas mãos, os presidentes do Brasil e da Venezuela participaram do evento de lançamento da pedra fundamental da Refinaria Abreu e Lima, em Suape. Nas vindas ao Recife, Chávez sempre chamava muita atenção: conversava com flanelinhas na Avenida Boa Viagem, posava para fotos com funcionários e hóspedes nos hotéis e fazia discursos que pareciam intermináveis.
No evento de início da obra, em setembro de 2007, o presidente Lula fez discurso lembrando os bastidores da escolha do Estado para sediar a refinaria. “Eu tinha uma família de 27 filhos (os governadores), querendo um pedaço do bife (a refinaria). Como não poderia dividir com todos, disse que quem trouxesse um parceiro levaria o negócio. Aí Chávez decidiu investir em Pernambuco”, disse. O resto da novela se dividiu em muito capítulos durante 10 anos, sem que a PDVSA assinasse contrato definitivo coma Petrobras nem destinasse um bolívar (moeda do país) sequer à obra.
O fracasso do negócio foi oficialmente anunciado em 2013, com a Petrobras afirmando que ia concluir a obra com ou sem a PDVSA. O resto da história da Refinaria Abreu e Lima é conhecida. A refinaria virou alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) e da operação Lava Jato. Ficou conhecida como a refinaria mais cara do mundo, com orçamento inicial saltando de US$ 2,5 bilhões para US$ 20 bilhões. Com informações do Jornal do Commercio.

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