CANDIDATURA DE CAMPOS PODE FORTALECER RICARDO


Nonato Guedes
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Aliados e interlocutores políticos do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, afirmam “em off” que uma virtual candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, ao Planalto, fortalece a pretensão de Coutinho de se reeleger ao Palácio da Redenção em 2014, diante do prestígio que o neto de Miguel Arraes começa a desfrutar em bolsões eleitorais do Nordeste. Na avaliação dessas fontes, Coutinho tem uma situação atípica em termos de alianças políticas na Paraíba. Embora tenha canais de acesso à presidente Dilma Rousseff e recentemente tenha feito sua defesa diante de críticas ao governo, Ricardo sustenta desde 2010 uma composição com o PSDB, PSD e Democratas. Seu vice atual é Rômulo Gouveia, presidente do PSD, que foi originalmente indicado quando era filiado ao PSDB. O senador tucano Cássio Cunha Lima e o ex-senador Efraim Morais, presidente do DEM e secretário de Infraestrutura do governo, são parceiros declarados de Coutinho.
O governador só não mantém relações estreitas com o PT paraibano, sobretudo com lideranças influentes como o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Há simpatizantes de Coutinho nas hostes petistas, como o deputado federal Luiz Couto e o superintendente do Sebrae, Júlio Rafael. Mas o presidente do diretório regional do PT, Rodrigo Soares, ocupa uma pasta de Articulação Política na prefeitura da capital, e a gestão de Cartaxo é endossada, ainda, pelos deputados Frei Anastácio Ribeiro e Anísio Maia. Este último, inclusive, coordenou a primeira etapa da campanha do ex-companheiro de bancada na Assembléia na disputa pela prefeitura em 2012. Avalia-se que, nessa conjuntura, Coutinho estaria em desvantagem para atrair o apoio do PT à sua reeleição, até porque o partido debate a hipótese de ampliar, em nível estadual, o processo de retomada do protagonismo político que se refletiu com a candidatura de Cartaxo a prefeito de João Pessoa. Na época, a corrente de Couto e Rafael inclinava-se por uma composição com o PSB em torno da candidatura de Estelizabel Bezerra, atual secretária de Comunicação do governo estadual.
Ricardo tem sido prestigiado por Eduardo Campos, que acompanha com interesse os movimentos políticos no Estado da Paraíba, por meio, até mesmo, de secretários e assessores com origens no solo tabajara. “Uma virtual candidatura de Eduardo a presidente da República em 2014 não alteraria o cronograma da candidatura de Ricardo à reeleição. Pelo contrário, contribuiria para reforçar essa postulação, ainda que Eduardo não viesse a se eleger contra Dilma Rousseff”, observam os informantes e analistas da conjuntura. A possibilidade de Eduardo vir a se lançar candidato a presidente preocupa seriamente a cúpula nacional do PT. Segundo o “Diário de Pernambuco”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou que vai insistir com Campos para que ele não se candidate em 2014 e mantenha a coalizão em apoio a Dilma. O intelectual paraibano Ariano Suassuna está dividido entre Dilma e Eduardo em termos de preferência. Disse que por enquanto defende a reeleição da presidente, mas ao mesmo tempo considera Eduardo mais apto a levar adiante avanços remanescentes do governo de Lula. Ariano teria dito ao jornal “Vanguarda”, após participar de um evento em Gravatá, Pernambuco, que Campos é um político brilhante e, ainda por cima, neto de Miguel Arraes, que foi um mito da política no vizinho Estado, tendo sido deposto em 64 do Palácio do Campo das Princesas e levado para a ilha de Fernando de Noronha.
No final de semana, o UOL Notícias publicou, em destaque, a notícia de que Campos é uma espécie de coringa no processo sucessório em 2014, tomando por base avaliações de especialistas políticos. A matéria ressalta que o governador não se pronuncia ostensivamente sobre a hipótese de ser candidato, mas também não a descarta por completo. Um dos especialistas considera que o governador de Pernambuco faz jogo dúbio, explicando que ele se mantém na coalizão que sustenta o governo de Dilma mas expande canais de interlocução com Aécio Neves, provável candidato do PSDB, além de não desestimular os rumores sobre sua própria candidatura. O PSB ainda é um partido regional, com foco no Nordeste, mas ameaça tirar votos de Dilma. Campos evitou ir ao encontro em São Paulo que assinalou os dez anos de gestão petista, enviando como seu representante o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. E em pelo menos uma vez, o governador de Pernambuco declarou que acha precipitado o lançamento da recandidatura de Dilma. Campos, ressalta um dos “experts” ouvidos por UOL, está no segundo mandato no governo de Pernambuco, sem direito à reeleição em 2014. Se não for candidato a presidente, a tendência é que seja candidato ao Senado, tido como reduto de ex-governadores. Mas nesse caso teria que adiar para 2018 a chance de disputar a presidência da República. Internamente, ele sofre pressões para que dispute já no próximo ano. Há socialistas que desestimulam Campos da ideia de aceitar ser vice de Dilma ou de Aécio Neves, argumentando que sua liderança está em franca ascensão a partir do Nordeste. Por via das dúvidas, Eduardo investe em programas administrativos com repercussão na mídia nacional. E na Paraíba o governador Ricardo Coutinho evita avançar prognósticos sobre a disputa do próximo ano, certamente aguardando sinais concretos do QG de Campos no Recife.

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