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Após deslize ortográfico, novo comercial do governo Ricardo diz que Engenho Pau D'Arco fica em Areia


Clilson Júnior
FESTIVAL DE ERROS: Após deslize ortográfico, novo comercial diz que Engenho Pau D'Arco fica na cidade de Areia
Clilson JúniorClickPB

A gestão de comunicação do governador Ricardo Coutinho anda batendo cabeças e veiculando vídeos institucionais sobre o Festival de Areia em todos os canais de televisão com erros grosseiros. Depois do erro ortográfico onde foram anunciadas: "Palestras, Exposições, Seções de Audiovisual" agora um novo vídeo para o mesmo festival, o governo da Paraíba transportou todo Engenho Pau D´Arco da cidade de Cruz do Espirito Santo, onde nasceu o poeta, para a cidade de Areia.

No novo comercial o texto narrado já começa com um erro no título de um poema "Monólogo de uma sombra" que na locução ficou "Monólogo das sombras" e no pé de Tamarindo que foi pronunciado como sendo "TAMARINO" . Mais adiante é possível observar um erro geograficamente imperdoável, ao localizar um engenho onde nasceu o poeta na cidade de Areia. No comercial, o governo conseguiu "transportar" o Engenho Pau D´Arco e o tamarineiro, da região de Sapé, diretamente para cidade de Areia.

"Augusto foi um ilustríssimo paraibano. Aos 17 anos escreveu o poema "monólogo das sombras" (MONÓLOGO DE UMA SOMBRA)  que abre seu único livro, o Eu. De lá pra cá a arte foi se moldando ao tempo, ganhando espaço na sociedade. A arte muda junto com o mundo. A única coisa que não mudou foi o seu famoso pé de Tamarino (TAMARINDO) que até hoje está lá no Engenho Pau Darco, em Areia..."
 



Augusto dos AnjosAugusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em Sapé, a 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d’Arco (atual Usina Santa Helena), na época, pertencendo ao município de Espirito Santo. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e Córdula Fernandes de Carvalho. Pelo ramo materno, descendia de velha e tradicional família da várzea do Rio Paraíba, seu avô, o Bacharel João Antônio Fernandes de Carvalho, foi Deputado Provincial, Oficial da Ordem da Rosa e prócer conservador em Pilar. Em 1859, hospedou, no Engenho Pau d’Arco, o Imperador Pedro II e sua comitiva, de passagem para Mamanguape.
Humberto Nóbrega, em seu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, fala dos ancestrais do consagrado poeta, relembrando velhos nomes dos Fernandes de Carvalho e dos Sanches Massa, estes últimos mais conhecidos como família Pacatuba. Do ramo paterno, evocou nomes ligados aos fatos da hist6ria política de Pernambuco. Seu pai, o Bacharel Alexandre Rodrigues dos Anjos Júnior era natural de Recife. Chegou à Paraíba como Juiz Municipal de Pedras de Fogo, fixando-se depois, no Engenho Pau d’ Arco, onde viveu os seus últimos anos. Descendia do português Manoel Rodrigues dos Anjos, nascido no Funchal, em 1763.
No Engenho Pau d’ Arco, iniciou Augusto dos Anjos os seus estudos, recebendo do pai os ensinamentos que marcaram profundamente a sua obra poética. Para José Américo de Almeida, o duro aprendizado a que foi submetido criou o “ËU”, fechando-o, ainda menino, na introspecção que ficou como uma das suas características. “0 Pai, homem instruído, versado nas humanidades era o mestre. Pai professor tem uma dupla autoridade, principalmente, descobrindo no filho uma centelha. Puxou por ele. 0 menino tomou gosto pelo estudo, porque era essa a sua natureza e ficou sério. Perdeu a meninice antes de perder a inocência.”
Saiu do Engenho para os exames preparatórios do Lyceu Paraibano, onde Orris Soares o viu como “um pássaro molhado, todo encolhido nas asas”. Começou a ser notado pelos colegas, tanto pelo temperamento arredio coma pela universidade dos seus conhecimentos. Alguns, que dele se aproximaram, perceberam algo de estranho nos versos excêntricos que fugiam ao convencionalismo das escolas dominantes. Suas primeiras produções foram recebidas com reservas. Eram novidades que não animavam a uma critica ou apreciação.
Augusto dos AnjosBacharel em Direito pela Faculdade do Recife, retornou à Paraíba. 0 engenho, decadente e arruinado, não o atraiu. Não quis enveredar por nenhuma das atividades jurídicas facultadas pelo seu diploma. Preferiu o magistério, foi nomeado professor de Literatura Brasileira do Lyceu Paraibano, tornando-se um nome conhecido nos meios literários da cidade. Os jornais iam publicando os seus versos. Em 1909, pronunciou uma conferência sobre os escravos no Teatro Santa Roza. E, apesar de sua conhecida e proclamada misantropia, ainda colaborando em jornais, explorando a brejeirice da musa jocosa que movimenta os festejos da padroeira. Até anúncios comerciais, em versa, deixou sair nas paginas do NONEVAR, conforme a surpreendente revelação de HumbertoNóbrega.
Em 1909, o poeta tenta uma licença para viajar ao Rio de Janeiro. 0 Presidente João Machado não acolhe o pedido, sob a alegação de que a sua condição de professor interino não lhe permitia o afastamento temporário do cargo, mesmo em gozo de licença, o que provocou sério incidente com o governador paraibano e, consequentemente, a sua definitiva transferencia para a antiga capital do pais. No Rio, enfrentou serias dificuldades como professor particular, integrando,, depois, o corpo docente do Colégio Pedro II e o da Escola Normal.
Desacreditado por alguns intelectuais de renome, como o poeta Olavo Bilac, que não enxergou nenhum mérito em sua poesia, sentiu-se abatido pela indiferença dos editores que não se interessaram pela publicação do “EU”. Depois de várias tentativas, conseguiu editá-lo. À edição princeps, de I912, seguiram-se numerosas reedições que o consagraram, atualmente, como o mais reeditado dos poetas brasileiros.
Esgotado pela vida difícil que levara no Rio de Janeiro, sentiu minar-se, dia a dia, a sua resistência orgânica, o que o obrigou a recorrer a um clima que lhe restaurasse as energias gastas nas canseiras do magistério. Arranjaram-lhe um emprego, em Minas Gerais, e para lá se transferiu, em 1914, como Diretor do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, em Leopoldina. De nada valeu esse esforço pela recuperação de sua saúde, falecendo, naquela cidade, a 12 de novembro de 1914, vitimado por uma pneumonia.
É patrono da cadeira nº 1 da Academia Paraibana de Letras, que teve como fundador o jurista e ensaísta José Flósculo da Nóbrega e como primeiro ocupante o seu biógrafo Humberto Nóbrega, sendo ocupada, atualmente, por Waldemar Bispo Duarte.

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