Mulheres pernambucanas: mais fortes que qualquer obstáculo

 

 (Foto: Rafael Vieira/DP)
Foto: Rafael Vieira/DP

O dia 8 de março é dedicado a homenagear mulheres de todo o mundo e de todas as trajetórias. Enquanto vivem suas vidas como estudantes, empreendedoras, funcionárias dos setores público e privado, voluntárias, mães e sustentáculos de famílias, elas também precisam lutar diariamente por respeito e igualdade. 

Criado em alusão a um incêndio ocorrido numa fábrica em Nova York, Estados Unidos, em 1911, no qual 123 operárias morreram em razão das péssimas condições de trabalho, o Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela ONU em 1975. Mais de um século após a tragédia e 47 anos depois da primeira comemoração global, a data segue cada vez mais necessária e consolidada. 

Neste 8 de março, o Diario conta as histórias de quatro pernambucanas cujos cotidianos retratam a complexidade e a força da condição feminina.

Bióloga de formação e empreendedora por paixão, Roberta Albuquerque, 54 anos, é uma delas. Trabalhou na área de biologia após se graduar, mas descobriu sua verdadeira vocação ao começar a ajudar o pai no Mercado de São José, no Centro do Recife, em 1993. Ela se encantou com o contato que a profissão proporcionava. “No começo eu não sabia trabalhar bem no comércio, mas depois comecei a gostar da profissão, porque comecei a lidar com as pessoas e com o turismo, conhecendo gente de vários estados e países. Estou aqui até hoje”, conta. 

Como única mulher entre os quatro filhos dos seus pais, Mário e Izabel Melo, Roberta trabalha com seu irmão, Luís Carlos, no mercado. A família hoje possui 26 boxes onde se comercializam produtos como redes, bordados, tapetes, bolsas de palha, bonecos de cerâmica, chaveiros, brinquedos antigos, entre outros. “Os bordados antigos como renascença e richelieu atualmente estão mais caros, mas não deixamos de investir, porque são trabalhos manuais feitos por mulheres na maioria”, afirma Roberta. 

A comerciante se considera uma mulher forte e batalhadora, que faz parte da economia de sua família, dividindo as despesas com o seu marido Eduardo Albuquerque. “A mulher precisa trabalhar para ter independência. Todas devem buscar estudar, batalhar por seu emprego e independência”, opina.

Missão de servir em primeiro lugar
 
 (Foto: Arquivo pessoal. )
Foto: Arquivo pessoal.

Adriane Luna, 39, é comissária especial da Polícia Civil, mas começou na corporação como agente, em 2011. Ela morava em Alagoas e sempre sonhou com sua profissão. “Eu costumo dizer que algumas pessoas já nascem policiais. Durante a juventude, a gente estuda e passa no concurso para uma vaga que já tinha de ser nossa. Eu sempre tive o apoio da minha família, acreditaram em mim”, conta. 

No Brasil, a inclusão das mulheres na polícia começou em São Paulo, em 1955, e durante as décadas de 1970 e 1980 elas foram conquistando espaço em outros estados do Brasil.












Atualmente, a comissária está lotada na Delegacia de Polícia 27ª circunscrição em Abreu e Lima. Para ela, trabalhar num ambiente com maioria de homens nunca lhe trouxe problemas. “Existe o respeito e praticidade. Quando estamos em serviço não existem homens e mulheres, existem policiais”, afirma.  

Adriene se considera uma mulher forte, determinada, realizada e muito feliz com seu trabalho e sua família.  Ela conta que sempre carrega consigo a certeza que tudo dará certo em todas as situações. “As mulheres precisam acreditar nelas. Nós podemos tudo. Ser mulher não diminui nossa capacidade. A percepção das mulheres sobre as coisas é mais ampla e a agilidade de pensamentos é maior e isso nos torna especiais. Nós suportamos coisas que os homens não suportariam, com todo respeito ao público masculino”, define.

Professora não teme novos desafios 
 
 (Foto: Arquivo pessoal. )
Foto: Arquivo pessoal.

A pedagoga Maria José Ferreira, 55 anos, começou a trabalhar como professora na Prefeitura de Jaboatão aos 18. Ela foi incentivada pelo seu pai Ednézio, assim que se formou no magistério. “Meu pai era servidor da Secretaria de Educação e me incentivou muito a fazer a seleção”, afirma. 

Maria foi a primeira de suas cinco irmãs a exercer uma atividade fora do lar. Ao longo dessas quase quatro décadas de dedicação, ela nunca deixou de se reciclar. Em 1991, realizou o sonho de se graduar em pedagogia em seguida fez especialização em alfabetização de crianças. No ano de 2010, defendeu seu mestrado em educação no Instituto de Línguas e Administração em Portugal. 

“Eu sempre continuei estudando para modernizar o meu ensino. Eu acho muito importante buscar novos conhecimentos. Os profissionais precisam está sempre se atualizando independente da área”, conta a mestra. 

Maria começou sua trajetória como educadora trabalhando no sistema de ensino no governo do estado, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Depois ocupou o cargo de coordenadora e gestora. Atualmente, após uma pausa de cinco anos, voltou à sala de aula na Prefeitura Municipal do Recife com uma turma de Ensino Infantil. “Está sendo um desafio, pois eu nunca tinha trabalhado com crianças tão pequenas. Mas tem sido um desafio muito bom, estou amando”, afirma. 

Para Maria, ser a mais velha de cinco irmãs a fez querer se tornar um exemplo. "Nesta sociedade machista, se a mulher não souber se colocar, ela é posta para trás em muitas situações. Precisamos continuar ensinando aos nossos filhos e netos que o mundo não é apenas dos homens. É dos homens e das mulheres, cada um com suas particularidades. E ensinar nossas filhas e netas a serem mulheres que lutam por seus sonhos e não baixam a cabeça para ninguém”, pontua Maria José. 


Agricultora, costureira e microempresária
 
 (Foto: Tainá Milena. )
Foto: Tainá Milena.

Janicleide Bezerra, 42 anos, aprendeu a costurar com sua mãe, Maria Porfírio, que costurava as roupas dela e de seus filhos. Maria nunca fez curso de costura, mas, segundo a filha, sempre dominou bem as técnicas. “Eu tenho orgulho de dizer que eu herdei a profissão da minha mãe”, conta Janicleide.
 
Antes de trabalhar profissionalmente como costureira, Janicleide foi agricultora, ajudando seu pai na roça, vendedora de verduras e vendedora de loja. Aos 24 a jovem costureira começou a costurar profissionalmente, trabalhando com confecção e consertos em diferentes locais, mas há 10 anos ela decidiu montar seu próprio negócio de costuras e consertos. “O último local em que trabalhei me fez perceber que eu poderia produzir para eu mesma. Hoje eu sou microempreendedora, trabalho para mim, consigo cuidar da casa e do meu filho. Tenho o meu dinheiro e divido sempre as contas da casa com meu marido”, conta.

A costureira afirma que a independência é algo que começou a conquistar desde muito jovem. “Eu acredito que todas as mulheres devem trabalhar, seja como doméstica, vendedora, executiva ou advogada. Se não tem nada o que fazer procurem vender cosméticos ou produtos de revistas. Mas sejam independentes”, explica.

Diario de Pernambuco

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