Manual político goianense: uma visão crítica das eleições municipais 2016

 Foto: Arte sobre reprodução





A velha política ainda permanece impregnada em Goiana. Essa constatação não é difícil de ser compreendida caso vejamos as condutas dos dois candidatos que aparentemente são os principais na disputa: Edval Soares (PR) e Osvaldo Filho (PMDB). Estes estão centrados em ataques mútuos; quer queira ou não, contribuem para a disseminação do ódio e acirramento dos dois grupos que acompanham tais candidatos.

Para além de uma campanha que mostre propostas, o que vemos são diversas atitudes que não estão enquadradas numa perspectiva de uma nova política: permanecem construindo uma forma inoperante, sem ética ou moral alguma, possuindo a difamação – ou qualquer coisa do tipo – como característica central de campanha.

Ainda que o assunto seja de suma importância, não tratarei deles aqui. Observando os discursos de ambos candidatos mencionados acima, resolvi esclarecer alguns pontos para que os eleitores e eleitoras do município de Goiana não caiam em sérios equívocos, ou, digamos, em perversas estratégias de convencimento. Para isso, apresento-lhes um breve manual que tem como objetivo central esclarecer certos tipos de manipulação e de condutadas que são por demais deploráveis. 

O manual, a crítica e o senso comum.

É necessário lembrar, primeiramente, que os dois candidatos são homens do século XX. A visão de cidade e de gestão ficaram no limiar dos anos de 1990, ainda que Edval tenha assumido em 2001. Dessa forma, os primeiros dezesseis anos deste novo século foram o suficiente para que três gestões destrambelhassem a casa, mas não para mudar a concepção política dos dois candidatos aqui tratados. Basta uma breve olhada nos planos de governo e veremos tal constatação. Eles encerram uma perspectiva política há muito ultrapassada, não conseguem ir além do habitual ou do que se faz há pelo menos um século.

Em segundo lugar, fiquemos atento quanto a esse “Bom Tempo”, tão mencionado pelo candidato do PMDB. Esperemos que ele não drene as diretrizes políticas dos setores majoritários de seu partido que hoje governam ilegitimamente o país. Não nos esqueçamos que o próprio Osvaldo Filho encerra em si a perspectiva “neoliberalizante” – que já demonstrou, através da história, sua “inoperabilidade” -, isto é: a “parceria” (de modo geral: a privatização) da máquina pública com setores privados, sob o julgo do progresso: apesar da proposta soar de forma bonita, não se iludam.

Tais parcerias são importantes, diria qualquer um liberal ou economista, mas é necessário que elas não visem a exploração da classe trabalhadora e/ou a garantia de grandes obtenções de lucro das empresas privadas, torando Goiana definitivamente como uma cidade incubadora de mão de obra barata e/ou uma cidade dependente das grandes indústrias que se instalarão conforme o tempo e serão legitimadas pela ideia de “emprego”: mas  nem sempre isso significa uma boa qualidade de vida; nem sempre isso quer dizer que os direitos e necessidades das comunidades que compõem uma cidade serão atendidos.

Essa drenagem, vale ainda ressaltar, ceifaria qualquer possibilidade de uma cidade para além das especulações imobiliárias; do crescimento desordenado e de propostas de vastos condomínios privados como alternativa social para se viver, ocultando as verdadeiras dificuldades/problemas daquelxs que mais precisam e xs expulsando dos seus lugares de origem, sob indenizações irrisórias e sob a ação policial – caso haja resistência.

Em terceiro lugar, nunca aceitem qualquer discurso que tenha como alicerce o passado para legitimar certas “experiências”. A história – assim como o próprio passado – são ferramentas que, utilizadas sem um senso crítico, servem para legitimar inverdades e posicionar certas relações de poder. Sabe-se muito bem que pouco conhecemos sobre a gestão de Osvaldo Filho e de Edval.

Ambos se utilizam do passado para querer legitimar suas experiências e, com a falta de testemunhos que não estejam circunscritos num senso comum, fica difícil avaliarmos a veracidade de suas colocações: duvidemos sempre para não cairmos numa retórica que mais prejudica do que esclarece.

Mesmo a maioria daquelxs que viveram esse tempo, desconhecem certos assuntos que caracterizam tais gestões – ou, muitas vezes, fazem questão de ocultá-los. Nos anos de 1990, como se sabe, a desigualdade social era ainda muito maior que os dias atuais. Nunca que Osvaldo Filho enfrentou esse problema: construir calçamentos e asfaltar ruas não configuram sérias políticas públicas que incentivam a redução da desigualdade, tampouco uma questionável “desapropriação” de terras terá sido algo em potencial: sempre existem insatisfações; erros; corrupções; mando e desmando; é preciso que fiquemos atento quanto a isso, para não cairmos em idealizações.

Em quarto lugar, tomemos muito cuidado com o senso comum. Este tem como meta ocultar questões importantes: ele torna muito nebulosa a vida política de Goiana ou de qualquer lugar que seja praticado.
Mas o que é, com efeito, esse pretenso bom senso? Nada mais que um composto de postulados disparatados e de experiências precipitadamente generalizadas. O bom senso, por exemplo, parece proibir a constatação de que Osvaldo Filho está coligado com um partido que assaltou o Brasil de cara aberta, e que ele é conhecido por suas ações de “imperadorzinho”, agindo sempre para consolidar seus interesses pessoais de empresário; ou que Edval possui problemas com a justiça devido a dificuldades na declaração de contas públicas e que durante sua gestão houve casos de corrupção.

O senso comum também torna as constatações, que certos veículos de informação disseminam, como absolutamente verdadeiras. Não é novidade para ninguém que um Blog – de um certo respaldo -  faz parte da campanha de Osvaldo Filho; mesmo afirmando uma suposta imparcialidade dos fatos, suas matérias estão demasiadamente enquadradas na tentativa de criar uma imagem bonita do candidato que ele, clarividente, apoia. Em Edval não se dá diferente. Outros comunicadores constituem a sua base. É uma questão de escolhas, sabemos. No entanto, é necessário sempre ficar atento com relação ao que se publica: a informação é poder.

Certa vez dando aula para trabalhadores rurais da Zona da Mata Norte de Pernambuco, vi um rapaz de mais ou menos 40 anos, que rejeitava quaisquer notícias dos grandes veículos de informação, mas, em contrapartida, adorava escutar o que os seus amigos de trabalho viram e ouviram sobre certos assuntos que envolviam seus interesses. Nesse sentido, é importante que estejamos atentos quanto a matérias tendenciosas que tem por objetivo a dissimulação, bem como a construção de uma imagem fictícia de certos candidatos.
Por fim?

“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.” A frese foi dita por um historiador francês preso pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Apesar do tempo, ela carrega consigo um peso contemporâneo, ou melhor, universal que certamente poderá ser compreendido por todas culturas do mundo ocidental. Goiana sente fome de história. As abissais colunas que constituem o passado desta cidade, nos impossibilita de averiguarmos corretamente nossos candidatos nesse presente que escorre no tempo.

As consequências são sérias; somos carregados pelo senso comum como numa enxurrada; não dispomos de nenhuma análise séria; somos sempre levados pelo rio de postulados forjados no centro da vaidade. Em suma: é necessário que nos voltemos ao passado para que assim possamos afastar a neblina que encobre o presente, tornando difícil sua compreensão.

Por tudo que foi discutido acima: não nos iludamos com discursos baratos. A ideia de uma cidade mais democrática e inclusiva, bem como o próprio direito que temos de reinventá-la, pode estar correndo perigo diante de postulados retóricos que não possuem outra função senão a de ludibriar os eleitores e eleitoras. Avaliemos bem, portanto.

Sobre, por fim, o futuro prefeito de Goiana: que vença o menos pior!!!

Goiana Notícias
Um mundo de móveis pra vc!!!

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