GERVÁSIO NEGA ADESÃO, MAS SOFRE DESCONFIANÇA


Nonato Guedes
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A insistente aproximação do deputado Gervásio Filho com o esquema do governador Ricardo Coutinho (PSB) tem deixado o parlamentar na corda-bamba dentro do PMDB. Gervásio tornou-se assíduo na agenda de contatos do governador. Já foi recebido em audiência na Granja Santana, reencontrou-se com Ricardo em outro momento e ultimamente esteve numa solenidade do governo em municípios do interior. Para todos os efeitos, o parlamentar sustenta que não está em marcha batida para aderir ao governo nem tampouco pretende deixar as hostes peemedebistas, desafiando a quem quer que seja que ele tenha adotado posições anti-partidárias na Assembléia Legislativa quanto a virtuais matérias fechadas. Ainda ontem, ao negar que esteja em vias de se incorporar ao bloco governista, foi enfático: “Eu não sou inimigo, sou adversário. Não estou intrigado com o governador”.
As explicações de Gervásio não são suficientes para convencer integrantes da cúpula peemedebista, que estão monitorando os passos do parlamentar para avaliar se tomam medidas estatutárias diante do seu comportamento. Gervásio tem sinalizado que pode vir a votar favoravelmente ao pedido de autorização do governo à Assembléia para a contratação de um empréstimo no valor de R$ 150 milhões, destinado a sanear financeiramente a Cagepa, estatal de água e esgotos. Nem o PMDB nem outros partidos reuniram-se, até agora, para fechar questão a respeito, o que passa a impressão de que o tema divide as próprias direções. No Partido Ecológico Nacional, onde o presidente da Assembléia, Ricardo Marcelo, está em constante queda de braço com o Executivo, vários parlamentares já anteciparam voto favorável à autorização para o empréstimo.
Entre eles estão Wilson Braga, Athaydes Mendes (Branco), Toinho do Sopão, que não são propriamente assíduos da Granja Santana ou do Palácio da Redenção. No PMDB, Tróccoli Júnior alega que não pode ser contrário aos interesses da população, com isto argumentando que o empréstimo é realmente necessário para atender a uma situação de emergência numa pasta que atende setor crucial da comunidade paraibana. Iraê Lucena, que assumiu a titularidade na Assembléia com a condição de votar favoravelmente a matérias do governo, onde ocupava uma secretaria da Diversidade Humana, é assumida em relação à sua posição de mérito na questão do empréstimo. O quadro se encaminha, praticamente, para uma vitória surpreendente e irreversível do governo, dispensando mediação mais frenética da parte do líder governista Hervázio Bezerra, que ainda anteontem demonstrava sinais de inquietação com relação ao tema.
A preocupação de Hervázio passou a ser, a partir de agora, a de sensibilizar o presidente Ricardo Marcelo a colocar a matéria em pauta o quanto antes, dada a urgência que o empréstimo requer. Esse cenário não retira de pauta o “problema Gervásio” dentro do PMDB. O mal estar é visível com a linha independente que ele tem assumido, até de forma desafiadora. Ele já acusou a cúpula, presidida pelo ex-governador José Maranhão, de viver encastelada, sem audiência com as bases, o que seria um dos fatores responsáveis pelo acúmulo de derrotas que o partido vem experimentando, quer em nível estadual, quer no âmbito municipal. O ex-presidente do diretório regional, atual tesoureiro, Antônio de Souza, insinuou, certa feita, que Gervásio estava com “banzo” do poder e não duvidou que ele viesse a figurar numa relação de adesistas ao governo.
Gervásio mantém a atitude desafiadora e ressalta que o estatuto partidário não lhe proíbe de manter conversações com autoridades em torno de problemas comuns aos municípios que ele representa no Poder Legislativo. Mesmo a votação favorável a uma matéria, apenas, seria insuficiente para provocar qualquer punição capaz de enquadrá-lo no capítulo da infidelidade. “Mas a situação é indiscutivelmente insustentável, senão para Gervásio, com toda certeza para a direção, que já está às voltas com o posicionamento da deputada Iraê”, confessa um dirigente ortodoxo do PMDB. No caso de Iraê, a fonte avalia que a dificuldade em puni-la está no fato de se tratar da filha do senador Humberto Lucena, que por muito tempo presidiu o PMDB paraibano e chegou a abrir mão da candidatura ao governo para atrair dissidentes de outros partidos, como Antônio Mariz e Tarcísio Burity. Mas nada impede que, futuramente, o diretório se reúna em caráter formal para deliberar a respeito dessas atitudes, que podem gerar um efeito dominó, comprometendo a própria autoridade de José Maranhão dentro da agremiação.

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