Divergências políticas pontuam debate sobre conflitos entre polícia e movimentos sociais
Alertas
sobre risco de politização pontuaram a audiência pública da Comissão de
Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quinta-feira
(1º), sobre eventuais excessos da Polícia Militar em ações de
desocupação de terras e imóveis invadidos no Acre e no confronto com
estudantes mobilizados contra aumento de passagens de ônibus no Piauí.
Os dois estados são governados pelo PT.
O
presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), foi o primeiro a apelar
pela não-partidirização desse debate. E fez isso durante exposição do
deputado estadual pelo Acre Major Rocha (PSDB), que acusou o governo
estadual de censurar a divulgação de atos de violência policial com uso
de balas de borracha e gás de pimenta na reintegração de posse de um
terreno e um conjunto habitacional popular. Segundo acrescentou, esses
episódios - ocorridos em 2011 - estariam acirrando a disputa política
local em torno das eleições municipais de 2012.
Ao
responder às críticas do Major Rocha, o senador Aníbal Diniz (PT-AC)
lamentou a ausência de um representante da Polícia Militar do Acre para
se contrapor às acusações. Ao mesmo tempo em que protestou contra a
"exposição partidarizada" do deputado, Aníbal Diniz classificou como
"falsas" as imputações feitas ao governo acreano e disse que a atuação
da polícia militar deve se pautar pela independência em relação ao
partido que está no governo.
Pinheirinho
Na
avaliação do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), a politização do debate
sobre a intervenção policial em manifestações de movimentos sociais
surgiu com o processo de reintegração de posse da Comunidade do
Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), cidade governada pelo PSDB,
mesmo partido do governador do estado. Em vez de ser tratado com
"isenção e imparcialidade", o caso teria sido abordado "como um atentado
aos direitos humanos", criticando-se a atuação do governo paulista no
episódio. Após sustentar que a polícia deve nortear sua atuação pelo
respeito à lei, resguardando não só o direito de manifestação, mas
também a liberdade de ir e vir das pessoas, Aloysio sugeriu à CDH que
discuta a falta de regulamentação sobre o uso de armas não-letais pelas
forças policiais.
Mais do que normatizar a
utilização desses equipamentos, o senador Wellington Dias (PT-PI)
acredita ser fundamental que a Polícia Militar de cada estado monte uma
estrutura qualificada para lidar com situações envolvendo os movimentos
sociais. E, ao comentar o conflito entre policiais e estudantes em
Teresina (PI), no final de 2011, considerou "um milagre não ter havido
mortes".
Divergências
As
divergências nos relatos do estudante Deolindo de Sousa Moura e do
comandante-geral da Polícia Militar do Estado do Piauí, Rubens da Silva
Pereira, sobre esse episódio não se resumiram ao número de manifestantes
nas ruas de Teresina: 50 mil nas contas do movimento estudantil; seis
mil pelo levantamento da corporação.
Enquanto
Deolindo Moura denunciou, que no pior dia dos protestos, cerca de 200
estudantes foram encurralados na principal avenida da capital piauiense
por um batalhão com quase 400 policiais, quando alguns foram pisoteados e
espancados e ocorreram prisões irregulares, o comandante Rubens Pereira
assegurou que os policiais tentaram negociar antes de usar a força
física, sempre agindo dentro da lei. De qualquer modo, admitiu ter sido
aberto inquérito policial militar para apurar eventuais excessos e punir
os responsáveis.
De acordo com a
superintendente municipal de Transportes e Trânsito de Teresina, Alzenir
Porto, os protestos contra o aumento de passagens e pela integração do
transporte urbano se tornaram mais violentos aos poucos, com os
manifestantes atirando, inicialmente, ovos e frutas podres em frente à
prefeitura e, depois, jogando pedras, queimando ônibus e chutando carros
no meio da rua. Alzenir Porto disse ter visto pessoas encapuzadas com
bandeiras partidárias em meio à manifestação. Deolindo Moura admitiu a
infiltração de pessoas no movimento com intenções diversas.
O
senador Magno Malta (PR-ES) fez um desabafo final, afirmando que,
atualmente, "tudo o que acontece de ruim na sociedade tá na conta da
polícia e de político".
- Onde tem conflito, tem gente descabeçada de um lado e do outro. Não se pode fazer marketing
em cima de conflitos, tem é que ajudar a resolver. Mas sem usar isso
como palco político e sem atingir a honra de pessoas de um lado e do
outro - observou.
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