Dilma começa a 'controlar próprio governo', avaliam analistas



Presidente trocou principais nomes do ministério em uma semana.
Para cientistas políticos, escolhas pessoais de Dilma a afastam de Lula. 

Andréia Sadi e Iara LemosDo G1, em Brasília
Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta a nova ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, durante a posse na última quarta-feira (8). (Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência)Dilma cumprimenta a nova ministra-chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, em cerimônia de posse na
última quarta (8). (Foto: Roberto Stuckert Filho/
Presidência)
Com seis meses no governo, a equipe ministerial de Dilma Rousseff passou pelo seu primeiro “test drive” nesta semana. Duas das principais figuras do núcleo central do governo, Antonio Palocci Luiz Sérgio deixaram os ministérios da Casa Civil e das Relações Institucionais, respectivamente, pressionados pelos principais partidos aliados. Ambos foram substituídos por duas escolhas pessoais da presidente: a senadora Gleisi Hoffmann e a ex-senadora Ideli Salvatti.
Para analistas ouvidos pelo G1, as mudanças dão a Dilma mais controle sobre o próprio governo, além de reforçar o rótulo de “governo feminino”, uma das bandeiras de sua campanha. Com a reformulação da chamada "cozinha" do governo, o Planalto terá três mulheres nos cargos-chave do governo. 
“Isso é uma coisa interessante. O gabinete realmente adquiriu uma cara feminina. Nesse aspecto é bom. Reforça a própria condição das mulheres no processo político”, avalia o cientista político Leonardo Barreto.
Indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o governo de Dilma ainda na campanha eleitoral, Antônio Palocci foi coordenador da campanha petista em 2010 e, já no ministério, era considerado o homem forte do governo. Palocci, contudo, não resistiu a uma série de denúncias envolvendo ocrescimento do seu patrimônio pessoal.
“Sai uma pessoa que tinha um papel importante nas decisões e não entra uma pessoa com o peso equivalente ao do Palocci. A Dilma passa a ter mais autonomia”, disse Barreto.
Sem Palocci, Dilma substituiu um nome de confiança do ex-presidente por uma escolha pessoal. Senadora em primeiro mandato, Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi convidada para comandar o principal ministério do governo. "Sai o 'lulista' [Palocci] e entra uma candidata a 'dilmista", aposta David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB).
A opção de Dilma por Gleisi surpreendeu o aliado PMDB e o próprio PT, já que nenhum dos dois partidos foi consultado a respeito da troca. Durante a semana, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, admitiu “surpresa” com a escolha, mas disse que a substituição foi uma “surpresa boa”. Na análise do cientista político David Fleischer, isso é um sintoma de que Dilma decidiu imprimir a sua marca pessoal no governo.
“Dilma vai imprimir o logotipo dela e tentar colocar gente de confiança nos cargos-chave do governo. Mas precisa se envolver mais, deixou a política a cargo de Palocci e escanteou o PMDB, que, apesar de tudo, é essencial para governar”, disse o professor.
Ideli Salvattie a presidente Dilma Rousseff(d) em cerimônia comemorativa do 146º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília. (Foto: ANDRE DUSEK/AGÊNCIA ESTADO/AE)Ideli Salvatti e Dilma em cerimônia comemorativa
do 146º Aniversário da Batalha Naval de Riachuelo
nesta sexta, em Brasília, antes do anúncio de que a
ministra iria para a Casa Civil (Foto: André Dusek /
Agência Estado)
Poder feminino
Com as alterações feitas nesta semana, dos 37 ministérios do governo, dez estão sob o comando de mulheres. Na montagem do quebra-cabeças do Planalto, a idéia inicial da presidente era preencher os cargos na Esplanada com 30% de mulheres. A meta está perto, mas ainda não foi atingida.
“Dilma está conseguindo, neste segundo tempo do governo, imprimir mais a sua marca. Na posse, já havia sinalizado isso quando convidou sua turma de militantes, usou a bandeira na eleição”, relembra Fleischer.
 Ideli Salvatti, petista de Santa Catarina, substitui o ex-ministro Luiz Sérgio (PT-RJ), que deixou o cargo após críticas de parlamentares sobre a articulação política do governo. Luiz Sérgio vai para o lugar de Ideli, no Ministério da Pesca e Aquicultura. Assim como aconteceu com Gleisi Hoffmann, os partidos aliados não foram consultados por Dilma a respeito da indicação da ex-ministra para o cargo.
A preferência do PMDB, por exemplo, era o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. No entanto, Vaccarezza encontrava resistência dentro do próprio partido, como o grupo do presidente da Câmara, Marco Maia.
Para o cientista político da Universidade de São Carlos (Ufscar), Marco Antonio Villa, Dilma pode até formar o “clube da luluzinha”, mas, segundo ele, a marca é fraca para segurar um governo de 4 anos. A estrutura do governo vai depender muito da atuação das mulheres escolhidas por Dilma, avalia.
“Dilma pode até vender isso eleitoralmente, a questão do gênero, mas é pequeno deixar a marca por aí. O governo vive crise política com o Congresso Nacional. A crise não chama-se Palocci, chama-se Dilma Rousseff”, afirmou Villa.
Para o analista, Dilma erra ao não consultar aliados. "Ela não ouviu sequer o PT. Ela se trancou com um grupo e apresenta tudo como prato feito", disse. "Política é negociação, é ouvir o outro aliado, o adversário, trocar ideias. Politica não é passar como trator", disse Villa. 

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