Aos 64 anos, Brasília tem a maior favela do país

 

Poder360

Cerca de 40 km separam a residência oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Palácio da Alvorada, das casas do Sol Nascente, a maior favela do Brasil. Ao todo, 36.283 domicílios compõem a área, onde parte da população convive com esgoto a céu aberto e em habitações que destoam da arquitetura futurística e do planejamento urbano prometido por Juscelino Kubitschek na inauguração de Brasília, há 64 anos.

Nos últimos 20 anos, houve um aumento de 1.299% na população do Sol Nascente. O crescimento exponencial da região deu a ela o título de maior favela brasileira, segundo dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A comunidade desbancou a Rocinha, no Rio de Janeiro, onde há, atualmente, 32.962 domicílios.

Neste domingo (21), a inauguração de Brasília completa 64 anos. Idealizada pelo então presidente Juscelino Kubitschek e planejada pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, a nova capital recebeu investimentos estimados em US$ 1,5 bilhão, para valores da época.

As ocupações irregulares, no entanto, logo passaram a fazer parte da história do Distrito Federal. Em 1971, Ceilândia foi construída para erradicar as favelas que começavam a surgir nos arredores de Brasília. Foi resultado da Campanha de Erradicação das Invasões (CEI). A área ganhou o título de região administrativa, divisão própria do DF para descentralizar e coordenar serviços públicos.

O Sol Nascente começou a se formar com a expansão de Ceilândia por meio da grilagem. A comunidade que era, inicialmente, um setor de chácaras, chegou a ser considerada um conjunto habitacional, e em 2019 se tornou uma região administrativa separada. O nome técnico da área é Sol Nascente e Pôr do Sol (por abranger outra comunidade localizada ali perto).

Atualmente, segundo o IBGE, 101.866 pessoas moram no lugar. Uma delas é Edson Batista, de 44 anos. A história dele converge com a do lugar. Nascido e criado em Ceilândia, ele comprou um lote na área em 2000 depois de se casar. Queria constituir sua própria família, mas o orçamento era pouco. “Foi o Sol Nascente que me deu condições”, diz.

As condições sociais eram precárias. Ele acabou se tornando líder comunitário por necessidade e ajudou a construir a comunidade. “A gente não tinha água, não tinha luz. Era tudo na gambiarra. Não tinha estrada, não entrava carro. Tinha que cobrar do Estado para colocar ônibus, passar caminhão de lixo. Todo mundo chegou na mesma situação e precisou organizar a comunidade”, declara.

A precariedade ainda faz parte do dia a dia dos moradores da região. A renda per capita média é de R$ 710 e o salário médio é de R$ 1.578 por mês, de acordo com dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio de 2021 da Companhia de Planejamento do Distrito Federal.

Apesar dos números e da ocupação irregular característica da área, moradores relutam em aceitar a definição de favela. Edson defende que a infraestrutura tem melhorado e o Sol Nascente não é parecido com as grandes comunidades do Brasil, como a Rocinha, no Rio, ou Heliópolis, em São Paulo.

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