A corrupção compensa

Rubens Nóbrega
É absolutamente assombroso o volume de denúncias sobre corrupção nos governos de qualquer nível ou esfera, mas impressiona muito mais a indiferença de alguns gestores denunciados diante das acusações. Tanto que o pouco de imprensa independente que nos resta desfia quase diariamente um rosário de escândalos e nenhum deles – por mais demonstrado e provado – parece incomodar um tico seus protagonistas.
Na Paraíba, então... A cada dia somos surpreendidos por notícias sobre esquemas flagrantemente montados para seus mentores e operadores ganharem dinheiro, muito dinheiro, à custa do dinheiro público. São milhões e milhões de reais que bandidos travestidos de agentes públicos surrupiam do erário através de fraudes em licitações, licitações de fachada, dispensas de licitação, advocacias administrativas, desapropriações...
O repertório é vasto, geralmente movido a sobrepreço, azeitado no superfaturamento, facilitado por compadrio ou vitaminado pelas intermediações patrocinadas por figuras do círculo íntimo do poder. Apesar de tudo, embora a cara de pau dos chefes e membros da quadrilha me cause perplexidade com todo asco e nojo disponíveis na praça da indignação, preocupa-me muito mais a inércia, a lerdeza ou a vista grossa de quem pode deter o bando.
Com as raras exceções de sempre, esbarram e travam nas cúpulas os processos e procedimentos dos defensores do bem público (auditores de contas, auditores fiscais, promotores de Justiça etc.) que detectam os desvios morais e materiais da malta. Apesar do esforço e coragem de quem investiga, apura, abre sindicância, instaura inquérito e ajuíza ações contra os ímprobos, não raro a corja é salva por morosidade judicial ou providenciais despachos de engavetamento ad eternum.
Escudados e secundados por advogados caríssimos e espertos, a maioria paga com dinheiro do próprio contribuinte, os malfeitores não apenas se livram como conseguem mandar pras calendas possíveis condenações. Pior é saber e ver, contudo, muitos dos meus concidadãos absolutamente conformados diante da bandalheira. Alguns, inclusive, acham absolutamente normais a existência e a prática dos corruptos.
“A corrupção banalizou-se, Rubens, virou cultura. Chegou ao poder, o sujeito se corrompe de alguma forma, começando pelos princípios e valores que jurou preservar quando estava em campanha”, disse-me outro dia um desses resignados. Por essas e outras, desconfio que na conta da apatia dessa gente tem gente se dando muito bem. Tão bem que ainda posa de sério, honesto e dá-se ao luxo de ameaçar e processar quem ousa lhe desvelar as mentiras e falcatruas.
Mas um dia, tenho certeza, esse pessoal será julgado e condenado por alguma instância terrena. Nem que seja nas urnas, já que em outra está difícil, considerando o potencial que essa galera tem para driblar os tribunais formalmente constituídos. Com a mesma certeza digo, contudo, que no tribunal lá de cima já tem sentença transitada em julgado e, sem que eles percebam, vem sendo cumprida desde o primeiro depósito na conta do laranja mais confiável, conta essa aberta aqui ou em algum paraíso fiscal caribenho no qual se faz escala rápida e discretíssima em viagens oficiais.
Sobre as luzes do Natal
O professor e jornalista Arael Costa não vai atender ao meu pedido – feito na coluna do último domingo – de manter acesas as luzes do Natal para além da Festa de Reis. Vejam, adiante, a razão do indeferimento.
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Meu caro amigo, com a renovação do abraço natalino, vejo-me impelido a confessar-lhe que infelizmente não atenderei à sua justa e pertinente sugestão de mantermos acesas as nossas luzes natalinas por mais um tempo, mantendo clima de alegria e de paz tão necessário nesta nossa sofrida Capitania.
Por uma obrigação atávica atenho-me a uma tradição herdada de meus pais e avós, que armavam um grande presépio na sala principal do casarão onde morei durante toda minha infância e o desarmavam e queimavam (preservadas as figuras, lógico) em ritual que se realizava no dia dos Reis Magos, como que encerrando esse ciclo festivo, quando a ceia já se fazia com muitos dos restos vindos das comedorias do Natal e do Ano Novo. Daí, desligarei minhas luzes no dia 6 de janeiro do ano vindouro.
Não guardei bem os significados desses procedimentos, mas os vejo como um aviso de que o período de festas se acabava, ainda restavam dias férias de Janeiro, mas o trabalho, para nós - jovens, o retorno à escola já se avizinhava e que tínhamos de começar a pensar nas novas responsabilidades. Naqueles tempos levava-se o ensino a sério e nós estudávamos as matérias que nos serviriam de base para um futuro profissional que se desejava de boa qualidade. Hoje...
Chamou minha atenção editorial de O Globo (‘Um assunto pouco sério’, sobre tratamento, atenção ou importância dispensada à educação brasileira, publicado no último dia 25) que copiei do blog de Ricardo Noblat e tomo a liberdade de lhe passar, expressando minha perplexidade com notícias dando conta de que deputados paraibanos, ao invés de se preocuparem com a melhoria do ensino, mediante o aperfeiçoamento dos processos fundamentais somado à melhor qualificação e melhor remuneração dos professores, patrocinam inclusão curricular de disciplinas que em nada vão enriquecer o processo de formação intelectual que os colégios devem perseguir.

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