Às vésperas da Copa, verde e amarelo ainda estão contidos

Timidamente, clima de Copa do Mundo começa a contagiar torcedores, ressabiados com crise do País e 7x1.

Torcedores começam a "vestir" ruas de verde e amarelo
Menos de uma semana para a abertura oficial da Copa do Mundoda Rússia, nesta quinta-feira (14), o verde e o amarelo, marcas registradas da Seleção Brasileira, ainda colorem timidamente a Cidade. Uma movimentação que difere de mundiais passados, quando bandeiras estampavam varandas e desfilavam aos montes pelo trânsito penduradas nos carros, e a camisa nacional era quase uma farda no esquenta para o início do evento. Os adversários do País na primeira fase, então, estavam todos decorados e não faltava estabelecimento distribuindo tabelas.
Copa ou a Seleção Brasileira, esquemas táticos, expectativas, opiniões sobre os convocados não aparecem entre os assuntos mais discutidos nas rodas de conversa atualmente. As principais ruas, avenidas e praças da Cidade também não remetem ao Mundial. Segundo uma pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP), os brasileiros ainda não entraram no clima da Copa do Mundo.
Do inesquecível 7x1 aos escândalos no futebol nacional e, principalmente, as crises econômica e política que o País atravessa, muitos são os fatores que têm interferido na empolgação do torcedor. No levantamento da FGV, feito das 18h do dia 29 de abril até o mesmo horário do último dia 5, foram anotadas 2,3 milhões de menções no Twitter à Seleção e à Copa. É pouco menos da metade de referências, no mesmo período, à política do País: 4,8 milhões de postagens - somando menções a pré-candidatos à presidência da República, à greve dos caminhoneiros, ao desemprego, à corrupção e às eleições.
"Olho a Copa hoje em terceiro plano, pelo menos para mim. Embora seja uma cultura forte, o clima está diferente, há uma frustração com o País. Não tem aquele clima, até comprávamos televisão nova. Eu mesmo não sei nem quando o Brasil joga", destaca o vendedor Vinícius Oliveira. "Com tanta violência, miséria, roubalheira, tudo sem punição, fica difícil. É também uma Seleção cheia de egos, os jogadores não têm a raça de tempos passados. Nem o mercado tem ajudado a empolgar. Não há quase nada enfeitado, lojas, ruas, até propagandas se comportam como se nem houvesse Copa. Cadê o verde e amarelo que predominava nessa época?", pontua a contadora Bianca Morais.
Neste ano, até quem é fã do esporte está enxergado a Copa com um ar diferente. "Sempre gostei de Copa do Mundo, adoro futebol, mas nem parece que vai ter Copa. Não me sinto animado ou desanimado. É uma sensação de indiferença”, analisa o administrador Thelmo Falcão. Termômetro nessas épocas festivas, o mercado tem sentido a falta de interesse do torcedor. “Em uma semana e meia, vendi duas bandeirinhas. Sei que mudou o poder aquisitivo, mas mudou o entusiasmo das pessoas também. Não tem aquele sentimento animado”, destaca Janaína de Souza, que comercializa bandeirinhas para carro a R$ 5. “Estou fazendo três por R$ 10 e nem assim está saindo.”
A grande verdade é que o assunto divide as opiniões. Tem gente, por exemplo, que vem pensando na Copa já há alguns meses, seja nas opções de decoração ou nas festas com amigos e familiares nos dias das partidas da Seleção. Há bares e restaurantes, inclusive, com ingressos esgotados para eventos relacionados aos jogos. "Estou doida que chegue logo. Adoro Copa do Mundo", frisa a secretária Karla de Abreu e Lima, que tem a tradição de reunir toda a família nos dias em que o Brasil entra em campo.
Festa também é a palavra chave em Camaragibe, onde os vizinhos da rua Indianápolis se uniram para colocar a mão na massa na decoração. "A ideia foi uma forma de aproximar mais a vizinhança, nos reunimos para definir colaborações e cerca de dez pessoas ficaram responsáveis pela execução", conta a autônoma Scarlett Barbosa, que teve a iniciativa. "Todo mundo se envolveu. Estamos animados para a Copa. É do brasileiro acreditar na superação, que as coisas vão melhorar. A gente confia que o Brasil vai ser campeão", completa a estudante Bruna Karla.
O que o povo diz:

“A Copa do Mundo é diferente, tem um gostinho especial. O 7x1 deu uma desanimada, éramos para ter sido campeões em casa. Mas acho que o time está mais bem preparado neste ano, mudaram alguns jogadores, o técnico. Copa sempre anima.” - Cláudio Roberto Gomes, aposentado.
“Mesmo gostando muito de futebol, de assistir aos jogos, estou achando a movimentação bem fraca em relação a anos anteriores, quando via muitas ruas enfeitadas, as pessoas se organizando. Tem esse momento de crise, que pode ter desestimulado, e pode ser que depois do começo dos jogos melhore.” - Jonison Ribeiro Cruz, comerciante.
“Observo que para quem gosta de futebol, como eu, o clima para a Copa está na ansiedade, na expectativa para que comece logo. Mas, no geral, as pessoas estão menos empolgadas. Tem esses problemas do País. A Copa dura um mês, os problemas estão presentes o ano todo né?” - Paulo Roberto, autônomo.
“Realmente tem vários poréns neste ano. Gosto muito de futebol, adoro Copa, mas os filhos estão desempregados, não temos opções para votar nas eleições, a qualidade de vida está ruim. Onde eu moro a água sobe na cintura e estamos em período de chuvas. Tudo isso tira a animação para torcer.” Francisco Lopes Trindade, zelador.
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