CHAME O LADRÃO!


Rubens Nóbrega
Adoro passar o Carnaval em João Pessoa, justamente porque não tem Carnaval. É uma tranquilidade. Mas este ano, pelo visto, vou ter que arrumar outro canto para levar a família, porque ficar por aqui será uma temeridade e tanto.
Não só aqui, mas em qualquer lugar da Paraíba. Digo isso porque soube ontem que no Carnaval a Polícia Militar deve fazer greve se o governador Ricardo Coutinho não atender às reivindicações da tropa. Sendo assim, a greve é uma certeza.
Com seu jeito absolutista de ser, e ainda mais depois de baixar medida provisória sacramentando o aumentão de 3% para os servidores estaduais, evidente que o nosso despótico monarca jamais admitirá a sua palavra de rei voltar atrás.
Não tem a menor chance do Ricardus I conceder os 18% de reajuste que os policiais militares resolveram pedir, segundo proposta aprovada ontem à tarde em concorrida assembléia na sede da Caixa Beneficente da PM, na Capital.
Pois, se com a Polícia positiva e operante já nos alçaram a destaque nacional e internacional como a cidade mais violenta de um dos estados mais violentos do Brasil, imaginem, então, com os policiais da Paraíba de braços cruzados...
Que se preparem, então, funcionários e clientes das lotéricas, das agências dos Correios, dos caixas eletrônicos dos bancos! Que se cuidem e se protejam como podem os trabalhadores que vão pra casa de ônibus e os taxistas que trabalham à noite!
Que os condomínios residenciais reforcem a guarda privada! Que os hospitais e clínicas vigiem suas entradas, portarias e recepções! Que todo mundo faça promessa pra ver se escapa com vida da insanidade ou da estupidez arrogante que nos governa!
Ou a gente faz isso, camarada, ou então segue o conselho de Chico Buarque: “Não demoraDia desses chega a sua horaNão discuta à toa não reclameClame, chame lá, chame, chameChame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão!”.

Radicalismo real

A única vantagem – digamos – das greves dos nossos servidores estaduais sob a Nova Paraíba é porque aqui quem radicaliza é o governante, jamais os grevistas. E a radicalização se dá tanto no plano administrativo como no judicial.
No administrativo, duas coisas são absolutamente previsíveis: com o governador não tem conversa e no final do mês pode aguardar que as faltas virão descontadas, mesmo se o servidor estiver de licença, de atestado, de cama, na cova...
Agora, caso a categoria em greve dê uma de ‘arrochada’ e não se quebre mesmo diante do contracheque menor, o governo vai à Justiça, pede a ilegalidade da greve, multa pesada para quem organizou o movimento e aí... É tiro e queda!
Por essas e outras, lamento dizer, mas não acredito no sucesso da greve da PM ou de qualquer outro segmento do funcionalismo estadual. Além do mais, no caso dos policiais, a eterna desunião de suas lideranças quase sempre fragiliza o movimento.
Não tem a menor chance de acontecer por aqui o que aconteceu recentemente, por exemplo, em Fortaleza, onde a PM cearense, unida, mostrou que jamais seria vencida pela força (nem mesmo pela Força Nacional) ou intransigência do governante.
No final, e principalmente depois que o país inteiro viu pela tevê aquelas inusitadas barricadas feitas pelos grevistas com as próprias viaturas policiais (de pneus furados), o governador Cid Gomes chamou pra conversar e cedeu à tropa.
Mas isso foi lá no Ceará. Na Paraíba tem disso não! O que tem é a radicalização imbatível de um ex-insuflador de greves que sabe como ninguém endurecer o jogo e esticar a corda até a corda arrebentar. Do lado mais fraco, lógico.
Discurso X Prática
A Corte reuniu-se esta semana sob o discurso da austeridade. Ato contínuo, Aracilba Rocha, tesoureira real, confirmou que o governo vai mesmo comprar um avião para o rei viajar livre do assédio e tietagem dos fãs em vôos comerciais.
Ontem, em entrevista à Arapuan FM, o Doutor Oswaldo Filho, procurador geral de Justiça do Estado, informou que no Sagres dá pra ver que o Ricardus I já inchou a folha do Estado contratando mais de 28 mil prestadores de serviço.

Os motivos de Agra
Meu amigo Bicho Bom acredita que o prefeito da Capital “também terminou provando do chá-de-meira e se engasgou”, conforme me disse por i-meio, após ler a coluna de ontem, que desde o título indaga ‘O que abriu os olhos de Agra?’.
Já o Professor Oliveira achou de perguntar justo a Potinho de Veneno se “o homi correu com a sela ou tiraram o tapete dele?”. A resposta: “Acho que puxaram o tapete, Professor, porque ele teria dito que não cabia mais lixo debaixo”.
O gueto e o campo
Outra, boa, de Bicho Bom: “No processo de nazificação do nosso Estado, precisam de um gueto e de um campo de concentração. Pelo projeto para o bairro de São José, parece que já encontraram o gueto. Aonde será que irão construir o campo?”.
Só não dá no Cuiá, amigo, porque lá tem muita lama.

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