Comandante alerta para risco de produção de cocaína no Brasil
A
plantação de coca no Peru já chegou a áreas baixas e úmidas da Amazônia
e poderá em breve chegar ao Brasil. O alerta foi feito nesta
segunda-feira (24) pelo comandante militar da Amazônia, general Eduardo
Dias da Costa Villas Bôas, durante audiência pública promovida pela
Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), a respeito do
tema "Vigilância de Fronteiras - organização, distribuição espacial na
Amazônia e no sul do país".
Na abertura da
audiência, que foi presidida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), o
general informou que uma grande área da plantação de coca foi descoberta
em ação conjunta das polícias do Brasil e do Peru. A plantação foi
feita em áreas de índios ticunas, que vivem na região de fronteira entre
os dois países. E, caso se estenda até o lado brasileiro, levará o país
a deixar de ser apenas um corredor de passagem para a cocaína produzida
nos países vizinhos.
- Se a coca for plantada
no Brasil, o grau de complexidade será muito maior. Temos indícios da
presença na região de cartéis mexicanos, que têm um modus operandi mais
violento. Temos de estar muito atentos - afirmou Villas Bôas, após
observar que algumas regiões de fronteira podem vir a experimentar, se
não forem tomadas providências, problemas semelhantes aos do México.
Farc
A
presença de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (Farc) na região de fronteira foi indicada como um fator de
risco de insegurança, devido à sua participação no tráfico de armas e de
drogas, pelo coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da
Universidade Federal de Juiz de Fora, Ricardo Vélez Rodrigues.
Entre
outras ameaças potenciais à segurança do país, a seu ver, estão o
aumento da produção de cocaína na Bolívia e a criação do "maior centro
de contrabando da América do Sul" na região da Tríplice Fronteira, entre
Brasil, Paraguai e Argentina.
Ainda a respeito da fronteira brasileira com a Colômbia, o jornalista Marcelo Rech, editor do site de notícias Inforel,
relatou o papel exercido por soldados do Exército Brasileiro na região
de Tabatinga (AM) e Letícia, do lado colombiano. Em primeiro lugar,
observou, existe uma integração dos dois exércitos "além dos acordos
formais", que, a seu ver, ajuda a construir confiança mútua. Em seguida,
ele relatou a importância do Exército Brasileiro para a população civil
dos dois lados da fronteira.
- Alguns
colombianos com quem conversei me disseram como consideravam importante a
presença na região dos militares brasileiros, até, por exemplo, pelo
atendimento odontológico a crianças colombianas. Um soldado brasileiro
me disse que ali não há distinção de idioma, bandeira ou nacionalidade,
pois todos estão na Amazônia, distantes dos dois governos - relatou
Rech.
Focem
Como
estímulo ao desenvolvimento das regiões de fronteira localizadas ao
norte do Brasil, o chefe do Departamento da América do Sul 2 do
Ministério das Relações Exteriores, ministro Clemente de Lima Baena
Soares, defendeu a extensão para essas áreas de uma experiência já
realizada no Mercosul - o Fundo de Convergência Estrutural (Focem).
Composto por dotações anuais de US$ 100 milhões, o fundo é destinado a
investimentos principalmente nos dois menores países do bloco, Paraguai e
Uruguai.
- Por que não se estabelecer um Focem
para a Região Norte? Com investimentos em educação, saúde, cooperação
técnica e controle integrado de fronteiras, o fundo seria de fundamental
importância e beneficiaria todos nossos países vizinhos - sustentou
Baena.
Ao comentar os pronunciamentos dos
convidados para a audiência, Collor lembrou que, apesar dos problemas
existentes nas fronteiras, o Brasil vive em paz com seus vizinhos, busca
o consenso e, nos últimos anos, "vem demonstrando a capacidade de
promover amplo desenvolvimento, com ascensão de 30 milhões de pessoas
que viviam na linha da pobreza". O senador agradeceu ainda a presença,
na audiência, de representantes diplomáticos de 11 países, entre os
quais os embaixadores de Rússia, Filipinas e Cuba.
Por
sua vez, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) ressaltou a importância da
presença da população na segurança das fronteiras. Ele defendeu ainda a
construção de uma "forte unidade" entre a universidade, o governo e as
Forças Armadas, para defender o que chamou de um "grande projeto de
nação".
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